Últimas Publicações / Morre Apucarana, aos 79 anos - Empunhando a bandeira da polêmica, do folclore e da temeridade, Elnio Silveira Pohlmann marca seu nome indelevelmente na história do futebol de Maringá, quer queiram, quer não queiram.

Conheci o Apucarana há muitos anos, mas sua fama chegou bem antes para mim. O saudoso Renato Taylor Negrinho o chamava de “Aprendiz de feiticeiro”. O também saudoso Antonio Paulo Pucca vivia às turras com ele. Elnio Silveira Pohlmann criava clubes, montava times e depois ia ver como pagar a conta. Foi colunista esportivo dos jornais da cidade, teve programas de TV, montou tabloides, promoveu eventos (noites de gala, campeonatos amadores e torneios) e bingos (o espaço é pequeno para discorrer sobre isso, são muitas histórias), viajou pelas cidades da região vendendo propagandas para prefeituras e comerciantes, ou indo receber sem que o homenageado, às vezes, não soubesse da homenagem. Fundou o Grêmio de Esportes Maringá e o MAC, só para citar os principais, e era o rei dos estatutos de criação de clubes e associações e campeão absoluto dos bastidores do futebol.

Como repórter do Jornal do Povo e do O Diário do Norte do Paraná, eu cobria o Grêmio Maringá e o Maringá Atlético Clube. Nessa época, ali no início dos anos 1990, falava quase diariamente com o Elnio. Tivemos homéricas discussões pelas críticas que eu fazia ao time da ocasião e à diretoria. No dia seguinte estava tudo bem. Então ele saiu do Grêmio, ou saíram com ele, e o MAC fechou as portas ou foram fechadas pelos credores. Resolveu comprar um horário na RTV Sarandi, do João Cioffi, quando a emissora ainda funcionava naquela cidade. Ele me contratou como comentarista, o Paulinho Boa Pessoa como narrador e o saudoso Penha como cinegrafista. Além deste trabalho do domingo, eu fazia a produção do programa de rádio do Ananias Rodrigues na Atalaia e comentava, tinha coluna no Jornal do Povo e produzia o programa esportivo comandado pelo Domingos Trevizan na TV Maringá. Tempo muito louco e apaixonante.

Para a RTV, fazíamos jogos do Grêmio, gravávamos e, quando era no Willie Davids, levávamos a fita VHS para a RTV, que passava à noite. Partidas fora, no dia seguinte era exibido o tape. Também fazíamos jogos do amador da Liga de Maringá. Assim, conheci várias cidades. Às segundas, apresentávamos um programa ao vivo do estúdio, quando o Elnio fazia seus comentários a perder de vista, criticando o time do Grêmio e tecendo loas a determinados deputados, prefeitos parceiros e amigos vereadores. Sei de amigos que trabalharam para o Apucarana e não receberam ou tiveram dificuldades. Sei também de gente que ele ajudou.

Da minha parte, digo que ele nunca deixou de me pagar. Inclusive, quando íamos viajar, ele me dava o dinheiro para o almoço e o lanche da equipe e para a gasolina do carro do Penha. Quando chegávamos, 8, 9, 10 da noite, ele nos esperava em algum bar pra tomar algumas ou quase todas. Tempo inesquecível. Elnio, emérito contador de causos, apaixonado pela bola, divertido, bravo, braveza que durava dois minutos. Nunca tive coragem de chamá-lo de Cotia. Ele odiava o apelido. O saudoso Ary Bueno de Godoy, que reclamava do apelido “Perigoso”, tinha. Pelo amigo comum Dionísio Rodrigues Martins, que foi diretor dos clubes fundados pelo Apucarana, eu ficava sabendo do Elnio, de como estavam as coisas, da cegueira. Várias vezes, ao longo dos anos, ele me ligou, conversas a perder de vista.

 Em 2014, quando fiz o lançamento do livro “Futebol – Recortes de uma paixão”, ele esteve no Sesc. Já estava com a visão bem deficiente. Muitos amigos da imprensa presentes e o Elnio recebendo o carinho de todos. Tenho algumas fotos abraçando o Elnio logo depois de autografar o meu livro para ele. Acabei de revê-las e me emocionei. Me veio aqueles tempos, trinta anos atrás, muito trabalho e pouca grana. A grana continua curta, mas não tem mais aquela loucura. Em maio de 2018, fui com o Dionísio ao escritório do Elnio, que queria doar ao Museu Esportivo de Maringá um quadro do MAC, campeão da Segundona paranaense de 1989. A seguir, transcrevo parte do texto que fiz e publiquei no site do Museu Esportivo de Maringá em 2018:

 “A paixão pelo futebol continua motivando o popular Apucarana. A cegueira não o impede de trabalhar. Elnio Silveira Pohlmann, nome histórico e folclórico do futebol paranaense, em especial de Maringá, doou ao Museu Esportivo de Maringá um quadro do Maringá Atlético Clube, o MAC, de 1989, campeão da 2ª Divisão do Paranaense, clube fundado por ele. Também foi o Apucarana que, em 1974, fundou o Grêmio de Esportes Maringá. Polêmicas convivem com o Elnio ao longo dos seus mais de 50 anos ligados ao futebol. Brigas com radialistas e políticos, com torcedores e dirigentes de outros clubes e dos seus próprios clubes. Um homem sem papas na língua, empunhando a bandeira da temeridade. No meio de tudo isso, o inegável é que o seu nome está indelevelmente marcado na história da cidade, quer queiram, quer não queiram. Foram duas horas de conversas sobre o assunto que ele mais ama: a bola. Histórias que dão um livro. Histórias alegres, tristes, espantosas e até inexplicáveis. O Elnio está cego, mas não deixou de trabalhar, sendo o diretor e editor do jornal Paraná Notícias. Ele dita as matérias, explica como quer a capa e a diagramação, faz entrevistas e contatos comerciais por telefone.”

Foi a última vez que o vi. No final de 2020 ele me ligou, disse que queria ir ao Museu Esportivo. Hoje, sábado (28.02.21), o Moco, genro dele, me mandou uma mensagem informando da morte do “Aprendiz de feiticeiro”. Elnio morreu aos 79 anos vitimado por uma parada cardíaca. Quando formos falar da história do futebol de Maringá, Elnio Silveira Pohlmann, o Apucarana, não pode deixar de ser citado. Quando me perguntam da minha história no jornalismo, sempre tem o espaço do Elnio.  (Antonio Roberto de Paula, diretor do Museu Esportivo de Maringá)

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