Por Johnny Katayama - www.oportalmaringa.com.br
Fotografias históricas, recortes de jornal, capas de revista, chaveiros, canecas, troféus, medalhas, flâmulas, uniformes… Uma história diferente é contada em cada milímetro do Museu Esportivo de Maringá.
Uma bola autografada pelo campeão olímpico do vôlei de praia Emanuel Rego divide o espaço com a camisa #14 da seleção japonesa devidamente assinada por Alex Santos, maringaense que defendeu o Japão nas Copas do Mundo de 2002 e 2006 – quando, inclusive, enfrentou a seleção brasileira. Alguns passos adiante estão sapatilhas e certificados doados pela atleta Sonia Toyoshima e a carteira de trabalho original de Roderley, o ex-zagueiro que já teve a incumbência de marcar Pelé. Nas paredes as flâmulas, faixas de campeão e pôsteres de elencos históricos dividem espaço com lendas do esporte de Maringá, como o técnico de futsal Roberto Macoto Miyazaki – que comandou o time na então inédita conquista da medalha de ouro na 32º edição dos Jogos Abertos do Paraná, em 1989, na cidade de Pato Branco (PR) – e o enxadrista Jomar Egoroff, hexacampeão paranaense de xadrez.
O curador do Museu Esportivo de Maringá é o jornalista e escritor Antonio Roberto de Paula, um guardião de memórias do esporte maringaense. Para ele, a contínua construção e estruturação do museu é como a extensão de um hobby que tinha desde a infância. “Desde criança eu gostava de colar pôsteres da revista Placar na parede do meu quarto. Minha parede era forrada [de recortes de revistas]. Eu achava muito legal”, afirmou.
O amor pelo futebol surgiu quando menino e o acompanhou na vida adulta, quando de Paula escolheu como profissão o jornalismo. Ele começou a carreira na imprensa escrevendo em uma coluna chamadaVisão de Jogo, publicada no Jornal do Povo no início dos anos 90 e que cobria, basicamente, assuntos relacionados ao esporte amador de Maringá. A profissão o levou a escrever sobre política, atualidades, notícias factuais sobre a cidade, mas a antiga paixão pelo esporte continuou viva no coração dele.
A chama voltou a se acender em 2011, quando Antonio Roberto de Paula fez uma parceria com o produtor cultural Marcelo Carvalho para colocar Maringá no Guinness Book, o livro dos recordes. A dupla organizou a “partida de futsal mais longa da história”, realizada nos dias 1º e 2 de dezembro, que teve duração de 33 horas – reinaugurando, com estilo, o Ginásio de Esportes Chico Neto. A marca, oficialmente reconhecida pelo Guinness, já foi superada – o recorde atual pertence à cidade de Birkenhead, no Reino Unido, onde a Fundação Lee Knight realizou, em julho de 2017, uma partida que durou incríveis 50 horas.
Foi também em 2011 que de Paula iniciou as gravações do documentário Histórias que a Bola Pesada Contou, registrando os 50 anos do futsal em Maringá, que foi lançado no ano seguinte. O contato mais próximo com os entrevistados rendeu, além de grandes amizades, fotografias e depoimentos que, em 2014, deram origem ao livro Futebol: Recortes de uma Paixão, um dos mais de 10 títulos lançados pelo jornalista.
“Se a gente não contar a história hoje, amanhã não haverá quem conte” – De Paula
O Início
O resgate histórico é uma espécie de vocação na vida de Antonio Roberto de Paula. Em 2001, quando se graduou em Comunicação Social, apresentou como trabalho de conclusão de curso um livro que contava a história da Folha do Norte do Paraná, popularmente conhecida como “o jornal do bispo” – em alusão ao fundador, Dom Jaime Luiz Coelho.
Entre 2014 e 2015 de Paula começou a reunir os amigos – alguns deles ídolos, mas todos fãs do esporte – em um grupo em uma rede social, onde ele contava casos e causos da bola. Logo vieram bolas diferentes, e também os esportes sem bola.
Em 2016 ele lançou a exposição itinerante Maringá Futebol Memória, que foi o pontapé inicial para que o Museu Esportivo de Maringá ganhasse forma. “Quando fui convidado para fazer a exposição eu vi que não podia ficar só nas fotografias. Eu precisava de algo a mais”, recordou.
Ele então recorreu ao amigo Custódio André Neto, o Jacaré, um dos grandes nomes do futsal e do futebol amador de Maringá, que cedeu faixas e camisas históricas. A exposição itinerante passou por lugares como a Casa de Bamba, a Biblioteca Municipal Bento Munhoz da Rocha Neto, a Câmara Municipal, o Shopping Cidade e o Hotel Metrópole. Em cada novo local, o acervo crescia um pouco mais. “Na primeira exposição recebemos mais de 300 visitantes. Foi um agito. As pessoas perguntavam para onde iríamos. E todo dia chegavam doadores trazendo camisas, flâmulas, troféus, medalhas… Ganhamos tantas peças que não havia espaço para expor todas. Foi preciso arrumar um local fixo”, disse.
No dia 30 de outubro de 2017 o Museu Esportivo de Maringá foi, enfim, instalado em uma ampla sede na Rua Pioneiro Domingos Salgueiro, nº 1.415, esquina com a Avenida Carlos Borges, no Jardim Guaporé.
Acervo
O Museu Esportivo de Maringá conta hoje com mais de 3 mil itens, entre uniformes, flâmulas, faixas, taças, troféus, medalhas, chaveiros, canecas, fotografias, documentos, jornais, livros, revistas… Todos catalogados. “São mais de 150 doadores, seguramente. Toda semana recebemos alguma coisa. Até algumas relíquias que não tem nada a ver com esporte, mas a gente aceita também! (risos)”, garantiu de Paula.
O curador do Museu Esportivo de Maringá fez questão de destacar a importância de cada item do acervo, que além do valor histórico carregam também as memórias afetivas dos doadores e também dos fãs do esporte. Mas três itens em especial mexeram com a memória afetiva dele.
1) A camiseta utilizada por Itamar Antônio Bellasalma na final do Campeonato Paranaense de 1977. No dia 3 de outubro daquele ano, no Estádio Major Antônio Couto Pereira, no bairro do Alto da Glória, em Curitiba, o atacante ajudou o Grêmio de Esportes Maringá a conquistar a mais alta glória do futebol estadual. Envergando aquela camisa #9, em cobrança de falta aos 37 minutos do primeiro tempo, o atacante fez o gol do empate – e do título.
O uniforme estava na posse do professor Celso Corrêa, que antes de fazer a doação consultou Itamar pedindo autorização. Foi com o aval do atacante que de Paula recebeu a camisa, emoldurada em um quadro de vidro, num sábado de manhã. “Eu não conhecia o Celso Corrêa pessoalmente, só pela internet. Quando ele falou que ia me dar aquela camiseta eu “fiz um barulho”. Liguei para o Viola [Claudio Osmar de Oliveira, então Editor de Esportes do Jornal O Diário, que na época era o periódico de maior tiragem na cidade] avisando. Para quem é da nossa época, o Itamar era um ídolo”, recordou.
Entrega realizada, de Paula colocou o quadro no banco de trás do carro e rumou para casa. Enquanto no rádio tocava Falamansa, ele ao volante acompanhava a voz do cantor Tato e estava, assim como sugere a música, rindo à toa. A vida podia até já estar boa, mas a camisa ajudou a melhorar.
2) O uniforme do SERM, a Sociedade Esportiva e Recreativa de Maringá, o primeiro time de futebol da cidade, que surgiu nos anos 40. A relíquia foi um dos muitos itens cedidos por Custódio André Neto, um dos doadores mais importantes do Museu Esportivo de Maringá. “Além do valor histórico inestimável, por ser o uniforme original do primeiro time da cidade, foi um presente do Custódio, que foi um dos mentores para que eu fizesse o museu. Ele morreu em maio deste ano. Mas, sempre que eu vejo a camisa eu me lembro dele. Fico muito feliz por ter tido a oportunidade de ter sido amigo do Custódio e de ele ter me confiado todo esse acervo”, afirmou.
3) A foto do dia que o Grêmio de Maringá jogou no Maracanã, no dia 24 de agosto de 1969. O Galo Guerreiro enfrentou o Nacional-AM diante de 120 mil pessoas na decisão do Campeonato Nacional Centro/Sul x Norte/Nordeste. A partida foi a preliminar do jogo entre Brasil x Venezuela pelas eliminatórias da Copa do Mundo de 1970.
A preliminar foi vencida pelo Nacional-AM por 1 a 0. No jogo principal o Brasil goleou por 6 a 0, com três de Tostão, um de Jairzinho e dois de Pelé.
“A foto todo mundo tem. Está na internet. Mas este quadro eu ganhei dos filhos do senhor Orlando Pelissari. Ele era um torcedor ilustre, juntava recortes de jornal, fotos, tudo sobre o Grêmio. Ele já é falecido. Mas a família me deu o álbum dele. E um dos filhos dele falou ‘o quadro do meu pai tem que ficar aqui’. Eu fico agradecido pela confiança depositada, e isso aumenta demais a responsabilidade”, disse de Paula.
Visitas
O Museu Esportivo de Maringá não conta apenas com relíquias antigas e fotos de um passado distante. Ocasionalmente os visitantes também são brindados com a presença de ídolos contemporâneos e lendas literalmente vivas do esporte.
Ídolos do Grêmio de Maringá, como o zagueiro Roderley e o atacante Itamar, são presenças recorrentes. Mas o museu também já recebeu nomes do esporte nacional, como o maratonista Vanderlei Cordeiro de Lima (o único brasileiro a ser condecorado com a Medalha Pierre de Coubertin, a mais alta honraria concedida pelo Comitê Olímpico Internacional), o jogador de vôlei Nalbert Bitencourt (capitão da seleção masculina medalha de ouro nas Olimpíadas de Londres-2004) e o paranaense Emanuel Rego (também medalhista de ouro nos Jogos de Londres-2004) do vôlei de praia.
Uma das visitas mais esperadas foi a do ex-jogador Ademir da Guia. O “Divino”, considerado por muitos o maior ídolo da história do Palmeiras, atraiu mais de 100 pessoas ao museu. De Paula, no entanto, não faz distinção.
“Todas as visitas são importantes. O museu tem o sucesso que tem em função dos esportistas de Maringá terem abraçado a causa. Eu tenho o maior carinho por todos. É emocionante receber visitas de pessoas que representaram Maringá nos anos 50 e 60, os pioneiros, o pessoal do rádio, da TV, dos jornais, que militaram na imprensa – revelou, sem esconder qual visita ele mais gostaria de receber um dia – Pelé!”, afirmou, sem titubear.
Próximos passos
Um resgate do passado, mas sem tirar os olhos do futuro. Como o acervo cresce a cada dia e o espaço físico atual é alugado, de Paula sonha em um dia ter uma sede própria para o museu.
“Um espaço bem amplo, com sala de palestras, exibição de filmes, sala de entrevistas, um lugar que eu pudesse organizar o acervo, separar por esportes…”, projetou.
Como a visitação é gratuita, para viabilizar não só este projeto como também a manutenção das atividades, o Museu Esportivo de Maringá procura parceiros e apoiadores. A instituição tem um perfil na plataforma de financiamento coletivo apoia.se, onde as pessoas podem contribuir com doações a partir de R$ 9. O principal objetivo, apontou de Paula, é preparar o museu para as próximas gerações.
“Eu fico muito contente quando vejo crianças no museu, quando os pais trazem os filhos. Porque isso tudo é para eles. Aqui tem a história de muita gente. As pessoas amam isso aqui, e [as crianças] estão aprendendo a amar também. O museu não vai parar comigo, ele vai continuar. Eu peço a Deus que assim seja”, afirmou.
Enquanto o presente vira passado, o guardião de memórias do esporte maringaense continua na ativa: resgatando, registrando e contando histórias – dele e de outros – da mesma forma que, nas palavras do próprio de Paula, “um eterno garoto chutando bola em uma rua sem fim”.
Visitação
As visitas ao Museu Esportivo de Maringá podem ser agendadas pelos telefones (44) 3029-9674 e (44) 99156-1957.
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A escritora, compositora e jornalista Hulda Ramos, membro da Academia de Letras de Maringá, doou ao Museu Esportivo de Maringá quatro livros de sua autoria: “Rumo ao sul: histórias vividas no norte e noroeste do Paraná”, de 2001; “Suplício da saudade”, romance de 2003; “Vozes da terra”, poesia de 2015; e “Veredas abertas”, contos de 2015. O MEM já contava em sua biblioteca com outro livro seu: “O a
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“Quilômetros de papel e rios de tinta imprimem o futebol ao longo dos anos, atravessando gerações. Na era digital, as Imagens avançam pelos céus, rompem todas as fronteiras. As vozes do amor ao futebol ecoam pelo grande campo que é o mundo. Agora, em algum lugar, alguém chuta uma bola. A paixão mais documentada da história não para. O jogo nunca termina.”
(Antonio Roberto de Paula)
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