- Tem fogo?
- Tenho.
- Obrigado. Quer fumar?
- Não, fumei agora.
- Que fila, não?
- Já entraram uns trinta.
- E são só cinco vagas.
- Eu tô aqui de bobeira. Não tenho experiência.
- Trabalhei só uns três meses nisso, mas não tem mistério.
- Então você tem mais chances do que eu.
- Sei não. Depois dos 40 o pessoal tem má vontade.
- Que 40 nada. Com 35 já te olham meio atravessado.
- Faz tempo que você tá parado?
- Você diz, sem registro?
- É.
- Uns três anos.
- Eu já faz quatro. Só bico.
- Igual eu. Já vendi cartela de bingo, confecções, fita k7. Agora tô ajudando um amigo a construir uma casa. Não manjo nada. Fico o dia inteiro empurrando carriola e carregando balde de massa.
- Eu tô recolhendo jogo de bicho. O duro é que eu nunca fui bom de moto. Já passei cada sufoco. A gente tem horário. Sabe como é que é né?
- Quando você sair deste trampo me avisa.
- Tá a fim de encarar.
- Não, é para um sobrinho meu. O cara é bom de moto e fica o dia inteiro coçando lá em casa.
- Tá, mas do jeito que tá a coisa não vou sair tão cedo.
- O que você fazia? Qual a tua profissão de verdade?
- Jogador de futebol.
- Cê tá brincando?
- Não, é sério.
- Jogou onde?
- Interior de São Paulo.
- Em que time?
- Num monte. No Bragantino, Linense, Joboticabal, Paraguaçuense...
- Você jogou no Bragantino?
- Mas saí um pouco antes do Luxemburgo chegar. Lembra daquele time que tinha o Mauro Silva, Alberto, Mazinho, Gil Baiano. o Tiba, que foi campeão paulista em 90?
- Lógico que lembro. Ganhou do Novorizontino na final. Gol do Tiba.
- Pois é, joguei com aquele pessoal todo. Fui dispensado um pouco antes. Mas me considero um campeão paulista.
- Como é que é teu nome?
- No futebol a turma me chamava de Índio.
- Não vai me dizer que você é o Índio que jogou no Coritiba, que fez o gol do título brasileiro de 85, na final com o Bangu no Maracanã?
- Não, aquele é xará meu.
- O Londrina também tinha um.
- Não, nunca joguei lá.
- Já sei. Você é o Índio que começou aqui, no Grêmio, e virou Ademir no Atlético Mineiro?
- Também não. Este é bem mais novo do que eu.
- Não tô lembrando de você não.
- Lembra a final do Paulistão de 85?
- Se lembro. O meu São Paulo detonou a Portuguesa. O Cilinho era o treinador. Tinha o Muller, o Silas, O Sidnei... Um timaço. Que é que tem?
- Joguei a preliminar daquela decisão.
- Como é que eu vou lembrar de preliminar de decisão?
- Cara, o Morumbi estava lotado. fiz uma jogada pela lateral...
- Você jogava de lateral?
- Na direita.
- Então você é o Índio que começou no Santos, passou pelo Palmeiras, foi para o Goiás...
- Não, não. Este ainda tá jogando. Mas como eu tava falando, avancei pela lateral, passei por dois e cruzei na medida para o nosso centroavante fazer de cabeça. O Morumbi veio abaixo. Acho que fui um injustiçado. Cruzava melhor do que o Cafu.
- Grande vantagem cruzar melhor do que o Cafu...
- Acho que eu perdi pelo menos uns quinze anos da minha vida correndo atrás da bola. Não tenho nem a 7ª Série.
- Esquenta não. Pelo menos você conheceu muita gente. Valeu como experiência de vida. Melhor do que eu. Fiquei afundado nesta cidade, conheço meio mundo aquie e não consigo um trampo de 300 paus.
- Você trouxe referências?
- Um monte. Mas acho que não vou conseguir nem com o prefeito indicando.
- Tem que ter fé.
- Dá uma olhada pra trás. Tem mais de cinquenta atrás da gente. Como é que você vai competir? Pode crer que tem cara formado na fila.
- Formado e que fala inglês.
- E morou nos Estados Unidos e Europa.
- E não tem mais que 25 anos.
- Vou cair fora da fila.
- Aguenta aí.
- Quer um conselho. Sai da fila também. É perda de tempo.
- Não. Vou esperar. Vai que o cara lembra de mim.
- Esquece. O que tem de Índio jogando por aí e você é o Índio mais desconhecido de todos. Eu, que acompanho futebol, não lembro de você. Imagine que eles vão saber quem você é? Além do mais, eles não estão precisando de gente pra cruzar bola.
- É, vamos embora. Tem uma loja de calçados que tá precisando de um vendedor e um faturista.
- Vendedor e o quê?
- Faturista.
- Vamos lá que eu vou pedir esta vaga de vendedor. Cê foi campeão alguma vez?
- Só de torneio início. Mas na 2ª Divisão Paulista nosso time chegou entre os quatro.
- Existem pessoas que nasceram para ser campeãs. Outras, não. Entram somente como figurantes.
- É a vida meu caro, é a vida.
(Do livro de Antonio Roberto de Paula, “Da Minha Janela”, de 2003. Textos publicados no Jornal do Povo a partir de 1997)
Durante nove anos, Walter Poppi escreveu na Folha do Norte. De 1970 até o jornal cerrar as portas em 1979. Poppi começou precocemente. Aos 14 anos, em 1962, no O Jornal de Maringá, estava escrevendo as primeiras laudas como auxiliar de Antonio Calegari, o Foquinha, considerado um dos melhores repórteres policiais da época.
Antes de ir para a Folha, Poppi trabalhou quatro anos na Prosdócimo, empresa de móveis e eletrodomést
(Antonio Roberto de Paula
Pelo que sei, tinha vindo do norte. Não sei qual norte. Ou seria do sul? Que era corintiano até a raiz, transferência da paixão que vinha do bisavô, mas nunca chutara uma bola. Gostava de cerveja aos domingos e nos outros dias da semana também. Sei que gostava de mulheres. Isso mesmo, no plural. De todas as cores, idades, vocações e tamanhos. No final, sossegou.
Alcides Siqueira Gomes fala sobre todos os assuntos relacionados a Maringá com veemência e autoridade de quem nasceu na cidade no dia 1º de janeiro de 1947. Sobre comércio, religião, futebol, educação, política e administração municipal e seus respectivos personagens e fatos marcantes, inclusive do avião que caiu no centro da cidade em 1957. A memória de Alcides corre para busca
O que o rádio tocava virava sucesso. Em 1962, eram três as emissoras em Maringá: Cultura, Atalaia e Difusora. E uma grande rivalidade. O jornal era feito para um determinado grupo de pessoas. Já o rádio, com seu fantástico alcance, chegando a todos os rincões, dominava a preferência.
No lançamento da Folha do Norte, Osvaldo Lima estreou a coluna com um nome um tanto quanto esquisito: "Antenando e Discomentando&qu
“Quilômetros de papel e rios de tinta imprimem o futebol ao longo dos anos, atravessando gerações. Na era digital, as Imagens avançam pelos céus, rompem todas as fronteiras. As vozes do amor ao futebol ecoam pelo grande campo que é o mundo. Agora, em algum lugar, alguém chuta uma bola. A paixão mais documentada da história não para. O jogo nunca termina.”
(Antonio Roberto de Paula)
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