Crônicas / Alcides Siqueira Gomes, um dos primeiros a jogar futebol de salão em Maringá

   Alcides Siqueira Gomes fala sobre todos os assuntos relacionados a Maringá com veemência e autoridade de quem nasceu na cidade no dia 1º de janeiro de 1947. Sobre comércio, religião, futebol, educação, política e administração municipal e seus respectivos personagens e fatos marcantes, inclusive do avião que caiu no centro da cidade em 1957. A memória de Alcides corre para buscar dados. E não fala separadamente porque para cada lembrança ele cria novas frentes de informação e análise. É preciso trazê-lo para o tema inicial, mas às vezes, por ser tão instigante o assunto posto à baila, o interlocutor também abandona um campo e entra em outro e mais outro... Então é preciso retornar.

     Sua família veio de Campos, no Rio de Janeiro, na década de 40 e se estabeleceu inicialmente entre Ibiporã e Maringá. Em seguida, seu pai, que era conhecido com Chico Chapéu de Pano, adquiriu da Cia Melhoramentos Norte do Paraná uma chácara, atrás de onde hoje é o Clube Olímpico de Maringá. O sustento da família vinha do cultivo e a comercialização de frutas e verduras. Divanir Braz Palma, os irmãos Palma e os meninos da família Kira foram os amigos de infância de Alcides.

     A família de Alcides, ele com 4 anos, fez parte do primeiro núcleo de adventistas de Maringá. Em 1951, no KM 130, em torno de 15 pessoas se reuniam na residência do casal Basílio Caputo e Tereza Caputo, pais da professora Maria Serafina Caputo de Carvalho, um dos nomes históricos da Igreja na cidade. Ela foi a primeira professora adventista e a primeira diretora do Colégio Adventista. 

     Foi aluno da Escola Visconde de Nácar, hoje Dr. José Gerardo Braga, no Maringá Velho, tendo como professora Maria Balani Planas, a Dona Mariquinha. O ginásio ele concluiu no Colégio Dr. Gastão Vidigal, no prédio onde hoje funciona o Instituto Estadual de Educação. Neste endereço também estudou o científico e foi aluno da escola técnica de comércio. Aos 17 anos, em 1964, começou a trabalhar na Somaco, concessionária Volkswagen, cresceu na empresa, tornou-se diretor e lá ficou até 1996.

     Alcides diz ter sido espectador de um dos acontecimentos mais marcantes da história de Maringá: a queda do avião da Esquadrilha da Fumaça no dia 10 de maio de 1957, que matou seus dois ocupantes. “Eu estava na Igreja Adventista, uma casa de madeira, na avenida XV de Novembro, com o meu pai e minha mãe, assistindo ao culto. Lá fora, acontecia o desfile do aniversário de Maringá. Falei para a minha mãe que queria ir ver, ela não deixou. Inventei que queria ir ao banheiro, mas fui lá fora. O Basilio Sautchuk, que morava em frente à Igreja, me levou para ver o desfile e disse que depois falaria com o meu pai e a minha mãe. Ficamos vendo as fanfarras desfilando, a do Colégio Marista, do Gastão Vidigal, a Banda Marcial de Mandaguaçu. Era muita gente assistindo. Foi quando houve um barulho bem forte. Todo mundo correu para a praça Raposo Tavares. O avião caiu ao lado da caixa d´água da Ferroviária.”  

     A paixão pelo futebol começou na infância e que nunca diminuiu. Fez parte da turma pioneira que começou a jogar futebol de salão em Maringá, no início dos anos 60, no Aero Clube, ainda no terrão, e nas quadras do Prosdócimo e da Hermes Macedo. Antes, as quadras só eram utilizadas para jogos de vôlei e de basquete. Alcides cita como precursores do esporte da bola pesada na cidade os jogadores Pedretti, Genir Galli, Carlos Hortelã, Pedrão Martins, Abelardo, Nô, Pacoti, Clóvis Pógere, Esquerdinha e Portugal.

     O SERM, com sua arquibancada de madeira e seu campo de terra, recebia grandes públicos aos domingos para assistir jogos amadores da equipe contra os times da Cia Melhoramentos, do Mandacaru, do Operário, entre outros. Alcides conta que foi centroavante do Operário, forte time da Vila Operária, e que jogou a preliminar no estádio Willie Davids do histórico amistoso em que o Grêmio Esportivo Maringá venceu a seleção da União Soviética por 3 a 2, dia 13 de fevereiro de 1966.

     Naquele dia, logo após o amistoso, ainda no gramado, servindo dos préstimos de um tradutor em inglês, pediu a Metreveli, craque da União Soviética, uma cédula de Rublo, a moeda do país. O jogador disse que mandaria e anotou o endereço de Alcides. Qual não foi a surpresa do jovem maringaense quando chegou a encomenda em sua casa: uma nota de 100 rublos. Metreveli cumprira a promessa.

     Foi presidente da ACIM entre 1986 e 1987, em um período conturbado da economia brasileira.  No dia 26 de fevereiro de 1987, a ACIM lançou “O Dia do Protesto” criticando os altos juros cobrados que levavam o País ao caos, penalizando o empresariado e a classe trabalhadora e, como consequência, todos os segmentos da sociedade. Virulentos artigos assinados por Alcides, presidente da ACIM, representando o pensamento do comércio, da indústria e da prestação de serviços, tiveram repercussão nacional, sendo publicados nos grandes jornais brasileiros: Folha de S. Paulo, Gazeta Mercantil e O Estado de São Paulo, o Estadão. Além da presidência da entidade, Alcides ocupou outros cargos da diretoria e participou de diretorias de órgãos ligados à área empresarial maringaense.     

      Aos 70 anos de idade, Alcides ainda joga futebol. Pai de cinco filhos, avô de seis netos, Formado em direito pela Faculdade Franciscana do Largo São Francisco, campus de Bragança Paulista-SP, com escritório na Zona 4, em 2000, candidatou-se a vereador pelo PSD, obteve 705 votos e nunca mais pensou em concorrer. Com veemência e autoridade de quem nasceu na cidade no dia 1º de janeiro de 1947, Alcides Siqueira Gomes segue contando passagens da sua Maringá e segue sendo personagem. 

 

*Alcides faleceu no dia 27 de outubro de 2018

 

(Crônica de Antonio Roberto de Paula originariamente publicada no livro “Maringá 70 anos – a cidade contada pelos que viveram sua história”, editado pela Unicesumar, tendo como autores Antonio Roberto de Paula, Dirceu Herrero Gomes, Miguel Fernando Perez Silva e Rogério Recco, 2017, 2018)      

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