Crônicas / Walter Poppi e o amor à camisa

Durante nove anos, Walter Poppi escreveu na Folha do Norte. De 1970 até o jornal cerrar as portas em 1979. Poppi começou precocemente. Aos 14 anos, em 1962, no O Jornal de Maringá, estava escrevendo as primeiras laudas como auxiliar de Antonio Calegari, o Foquinha, considerado um dos melhores repórteres policiais da época.

Antes de ir para a Folha, Poppi trabalhou quatro anos na Prosdócimo, empresa de móveis e eletrodomésticos que faliu na década de 1980. Ele sempre gostou do jornalismo, mas procurou se formar em direito na UEM (Universidade Estadual de Maringá) na década de 1970 enquanto trabalhava na Folha.

A profissão de jornalista não era levada tão a sério como hoje. A maioria dos que militavam na imprensa analisava que era necessário obter um canudo, mas não eram todos os que estavam dispostos a encarar uma sala de aula.

Alguns, como Poppi, trataram de “garantir o futuro”. Casos também de Elpídio Serra e Messias Mendes, que viriam a se formar em geografia e história, respectivamente. Cursos de jornalismo na época só nas capitais. Era o tempo em que o pai dizia que o filho tinha que ser médico, advogado, engenheiro ou passar no concurso do Banco do Brasil.

Na troca de arrendatário, em 1973, e a inauguração do O Diário, no ano seguinte, a redação da Folha ficou bastante desfalcada. Saíram o fotógrafo Nelson Jaca Pupim, Valdir Pinheiro e Henri Jean Viana, o Francês, e ainda o colunista social Frank Silva.

Poppi havia entrado para ajudar Valdir no esporte, mas com o tempo passou a fazer o noticiário local, policial e o que viesse pela frente. Seus companheiros de redação depois da debandada para O Diário foram Mini-Chico, Manoel Cabral e o fotógrafo Danger. Chefiando a redação estava Elpídio Serra e Assis no comando.

A linha editorial da Folha não sofreu alterações. Assis continuava como diretor de redação e o espírito censor de dom Jaime estava sempre presente. Hoje, Poppi analisa que em muitas questões polêmicas da cidade a redação não fazia matérias em consideração a Assis. Se fossem feitas, Assis acabaria publicando, mas se indisporia com dom Jaime, como volta e meia acontecia.

Poppi ressalta, no entanto, que a Maringá dos anos 1970 era bem diferente de hoje. Não era todo o dia que se podia levantar uma boa pauta.

A gente trabalhava em função do Assis. Ele era um pai para nós e não um patrão. Um sujeito que todos gostam, né? Não tem quem não goste. Então, por amor ao Assis, a gente não apela. “- Não vamos sacanear o Assis, não vamos apelar”. E aquela época era um pouco diferente de hoje. Os problemas naquela época eram infinitamente menores do que são hoje. Nem droga tinha. Os problemas da polícia não eram a metade do que são hoje. Era tudo crime caseiro e de vez em quando tinha um assalto a banco.”

Todos os relatos dos repórteres da Folha convergem para um ponto: o desprendimento para fazer o trabalho e a preocupação com a repercussão das matérias publicadas. Não que isto seja uma prerrogativa apenas do jornalista da década de 1960, caracterizado quase sempre como bicho-grilo, boêmio que fazia um trabalho marginal.

A alegria e a paixão para fazer um texto que repercutisse moviam estes homens, a tal ponto que o tempo em que se dedicavam ao trabalho não era levado em conta. Poppi foi um destes homens.

“Você fazia por amor à camisa. Eu chegava de manhã e ficava até o meio-dia. Eu almoçava, voltava e aí eu ia pro pau fazer a pauta, fazer a página. Eu estudava à noite na UEM. Hoje, o jornalista só faz o turno dele, né? Cinco horas e ele faz o turno dele e vai embora, não quer nem saber. Nós, não, a gente vivia dentro do jornal. Eu mesmo, não largo nunca desta coisa de escrever. Surgiu uma brechinha e eu estou lá fazendo porque está no sangue.”

(Capítulo do livro “O Jornal do Bispo - A História da Folha do Norte do Paraná”, escrito por Antonio Roberto de Paula em 2001)

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