Crônicas / Chutes, pedaladas e outros

E abrindo a porta da velha edícula, abre o arquivo de memórias. Lágrimas serenas brotam. Ele não sabe identificá-las, não consegue sequer saber por que está chorando. É a liquidez da saudade gerada pela solidez de uma história, ele imagina. No cenário do passado, destacam-se velhas bolas de capotão, no canto, murchas, há tempos sem levar um chute.

      Então, enquanto segura a bola e desliza os dedos sobre os gastos gomos, amigos imaginários, crianças saídas de uma velha história vêm visitá-lo e com eles vai para um campinho de terra batida, todos descalços, as traves de bambu. Uma voz vem de bem longe, no momento em que se prepara para desferir um potente arremate em direção ao gol.

     É a sua mãe que está chamando para ir para casa. Ela sempre chamava uma, duas, três vezes. Jogava bola como se o dia seguinte não fosse existir. Havia uma necessidade premente de ocupar aquelas horas, de não deixar que elas escorressem sem que fossem usadas em sua totalidade e intensidade. Era preciso ter todo o tempo como se o amanhã estivesse muito distante.

    Parado em meio a velhos móveis e objetos, ele traça em instantes sua linha do tempo. Deixou tanto e tantas coisas para trás e agora, num simples gesto de abrir uma porta, trouxe tudo à sua frente. A bicicleta enferrujada, encostada na parede. Como ela era enorme! Para subir, ele precisava pô-la no chão.

     Outras vezes, seu pai a segurava até que conseguisse se equilibrar. O prazer de pedalar por ruas poeirentas, de estar com a turma em corridas arriscadas e excitantes. E agora ele acrescenta: corridas inesquecíveis.  Ele chega a sorrir ao recordar os tombos e, sem pensar, toca a cicatriz no cotovelo, eterno carimbo de um tempo.

       Uma cômoda com gavetas emperradas e entreabertas e cadeiras manquitolas ainda se sustentam e amparam objetos e papéis.  Gibis espalhados com tantos heróis assassinados pelas editoras, que hoje os mais jovens riem dos pomposos nomes daqueles que mantinham a lei e a ordem do planeta e os sonhos das crianças. Álbuns incompletos de figurinhas. Espaços em branco, destinados aos craques, as tais figurinhas carimbadas. Cadernos de letras e números ingênuos. Revistas com fotos em preto e branco e textos quilométricos. Um quadro de Nossa Senhora coberto pelo pó.

    Ele sai, fecha a porta. Olha mais uma vez para aquele pequeno lugar que ficou no tempo. A porta carcomida, como de resto quase todas as tábuas, a janelinha de vidros trincados...

     Ele ouve sua mãe novamente o chamando. Estou indo, mãe, ele responde: “Estou sempre indo e vindo nessas histórias, mãe”.

(Do livro de Antonio Roberto de Paula ´- “Diário dos Meus Domingos”, 2011 – textos publicados no jornal O Diário do Norte do Paraná de 2006 a 2009)

Veja Também

Alcides Siqueira Gomes, um dos primeiros a jogar futebol de salão em Maringá

   Alcides Siqueira Gomes fala sobre todos os assuntos relacionados a Maringá com veemência e autoridade de quem nasceu na cidade no dia 1º de janeiro de 1947. Sobre comércio, religião, futebol, educação, política e administração municipal e seus respectivos personagens e fatos marcantes, inclusive do avião que caiu no centro da cidade em 1957. A memória de Alcides corre para busca

O japonês bom de bola que jogou na seleção de Maringá

     A maior paixão de Mario Shinnai sempre foi o futebol. Por mais que houvesse o desencorajamento e as broncas do pai Yoshinari e da mãe Tsuriko, ele não desistiu. Por mais raro que fosse descendente de japoneses se destacar nesse esporte, com exceção dos que atuavam no gol, China, apelido ganho na infância, não desanimou, continuou a jogar futebol de campo e futebol de salão.

     Nos a

Assim começou o albergue (A. A. de Assis)

Meados de 1958. Manoel Tavares (diretor de “A Tribuna de Maringá”), parou diante de minha casa montado numa motocicleta e armado de máquina fotográfica. Pediu-me que subisse à garupa e o acompanhasse numa visita sem aviso prévio a uma instituição então conhecida como “albergue noturno”, que funcionava em Maringá por conta de um órgão do estado, o Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural

Detalhes até então desconhecidos de um amistoso entre Itália e Brasil no San Siro, 1963 (Reginaldo Aracheski)

Nosso amigo do Museu Esportivo de Maringá, o advogado Reginaldo Aracheski, criador do Memorial do Futebol da Lapa, cidade paranaense histórica, fundada em 13 de junho de 1769, conta a Antonio Roberto de Paula detalhes de um amistoso realizado na Itália, em 1963, entre a seleção daquele país e a brasileira: 

'O primeiro, à direita, na foto é Angelo Benedetto Sormani, meu amigo que mora em Roma. Nesse amistoso,

 Rua Pioneiro Domingos Salgueiro, 1415- sobreloja - Maringá - Paraná - Brasil

 (44) 99156-1957

Museu Esportivo © 2016 Todos os diretos reservados

Logo Ingá Digital