Félix Miéle Venerando – (texto de Antonio Roberto de Paula)
O goleiro Félix não era alto, o que dificultava suas saídas de gol. Aliás, este fundamento colocava os goleiros brasileiros em nível inferior aos demais. Havia uma teoria, praticamente um conceito, de que os argentinos eram infinitamente superiores aos do Brasil nesta posição. E não sem razão. A escola argentina produziu ótimos goleiros ao longo das décadas, tornando-se uma referência. A partir dos anos 1980, os clubes brasileiros passaram a se preocupar em formar goleiros. Já não era o ruinzão da linha que ia para o gol. Na década seguinte, o gaúcho Taffarel inspirou muitos garotos. Com suas defesas e seu cartaz, Taffarel deu o recado aos garotos, como se dissesse: “É possível ter sucesso na carreira jogando de goleiro.”
Mas em 1970, tínhamos Félix, de 32 anos, que atuava brilhantemente no Fluminense, mas era alvo de contestações. Aliás, goleiro que se preze não está livre de contestações. Pela sua experiência e pelo fato de ter sido o goleiro nas Eliminatórias de 1969, Félix tornou-se titular. Cláudio, goleiro do Santos, era o preferido de Saldanha, mas devido a um sério problema no joelho, foi cortado, ainda em 1969, abrindo vaga para dois garotos: o corintiano Ado era um talento promissor, assim como o palmeirense Leão, que só foi convocado quando a seleção já estava no México, substituindo o ponta direita Rogério, contundido.
As principais características de Félix eram a coragem e o bom posicionamento embaixo dos “três paus”, este um fator que possibilitava grandes defesas, algumas acrobáticas, principalmente atuando no Fluminense. Por ser um dos mais experientes do time, transmitia confiança. Seu melhor desempenho na Copa foi contra a Inglaterra, na segunda partida da fase de classificação, vitória pelo placar mínimo no único jogo em que o Brasil não sofreu gols. Destaque também para uma dificílima defesa na semifinal, contra o Uruguai, quando o placar estava 2 a 1 para o Brasil. No final, vencemos por 3 a 1.
A defesa brasileira levou sete gols e na cota exclusiva de Félix pode ser contabilizado, a rigor, apenas um dos que tomou na vitória por 3 a 2 contra a Romênia, quando já estávamos classificados. Pelo fato do Brasil ter um meio-campo e um ataque de altíssima qualidade, a defesa ficava em um plano inferior e, evidentemente, o goleiro era o mais visado. Ao cntrário de hoje, as análises de uma equipe eram feitas em compartimentos estanques: defesa, meio campo e ataque. Até compreeensível porque não havia a rotatividade, o tal futebol total onde todos estão em todos os lugares ao mesmo tempo. Para se ter uma ideia do pragmatismo nas quatro linhas, o gol de Clodoaldo contra o Uruguai na Copa de 1970 foi aclamado, logicamente pela importância de ter sido anoado numa semi-final, também pela "ousadia" do volante ter invadido a área adversária de maneira surpreendente. Voltando a Félix, que de tão magro tinha o apelido de "Papel", daí sua elasticidade compensando a falta de altura, ele ficou na história, com inteira justiça, como um dos grandes goleiros brasileiros, não com a fama de Gylmar e Taffarel, mas naquele momento, naquela geração de ouro, era o mais preparado para ser titular e correspondeu plenamente.
A comparação entre o futebol de Félix e de um goleiro atual fica prejudicada porque não é fácil encontrar um similar de relativo sucesso. Isto porque a partir dos anos 1990 houve a priorização no Brasil, mais até do que em outros países, em preparar nas categorias de base garotos altos para o gol. Félix tinha, no máximo, 1,80 cm. Hoje, um garoto com projeção de chegar até essa altura dificilmente será aprovado numa peneira. Para a aprovação, é necessário que nos fundamentos, como elasticidade, saída de gol, reposição de bola, posicionamento e liderança, ele seja acima da média para suprir a desvantagem da altura.
Dos goleiros em atividade e dos que se aposentaram em passado recente, Harley, do Goiás, é o que tem estilo que se assemelha a Félix. Apesar de não ser magro, Harley é baixo, sabe se posicionar, cresce em jogos importantes, é corajoso, tem elasticidade e inspira confiança ao time. Outros fundamentos não podem ser comparados devido à mudança na regra (o recuo de bola) e ao avanço nos treinamentos (saída com os pés), que tornaram o goleiro bem mais participativo. A avaliação do que era “frango” não era tão rigorosa e não havia câmeras para flagrá-los em todos os ângulos. Nos tempos de Félix, cumprir a obrigação era defender as bolas que eram chutadas ao gol. Os goleiros não batiam pênaltis e faltas, não saíam de suas metas e iam até as áreas adversárias aos 44 minutos do segundo tempo quando seu time estava perdendo e, salvo raríssimas exceções, só usavam preto. A preparação física, técnica e agora a tática não era tão aprimorada. Hoje, os goleiros podem e devem participar ativamente de uma partida, interagindo com o restante do time e não ser apenas um cobrador de tiros de meta.
O que chama a atenção nos depoimentos dos jogadores que atuaram com Félix, seja nos clubes ou na seleção, é a confiança que tinham nele e o boa praça que era. Félix foi gigante no seu tempo, um nome na história. Pela sua coragem, técnica, elasticidade e liderança aliadas aos novos modelos de preparação, certamente se destacaria hoje em dia, mesmo com seu 1,76 cm.
Texto abaixo de José Carlos Luk do site www.memoriasdoesporte.com.br
Félix Mielli Venerando, nasceu dia 24 de Dezembro de 1937, portanto, amanhã ele estará completando 70 anos de vida. Quando foi convocado para ser o goleiro titular da Copa de 70, muitos criticaram, achando que ele não tinha condição. No entanto, no decorrer do mundial, ele provou a todos que o Brasil estava bem servido naquela posição, fazendo defesas importantes, como aquela do jogo contra a Inglaterra, quando o placar ainda estava em branco.
Sua carreira começou bem cedo, nas divisões de base do Nacional Atlético Clube da capital paulista e, com apenas 15 anos de idade, profissionalizou-se no Juventus da Moóca e foi reserva do legendário goleiro Oberdã Catani que teve seu auge no Palmeiras. Dizem que Oberdã, conseguia defender um chute segurando a bola com apenas uma mão. Felix ficou no Juventus até 1955, quando foi contratado pela Portuguesa de Desportos no dia 23 de julho de 1955.
Mas quando chegou na Portuguesa, logo percebeu que não tinha muita chance na equipe, pois o clube já contava com os goleiros Cabeção e Lindolfo. Sendo assim, sua estréia só veio acontecer, no dia 26 de março de 1956, no Rio São Paulo Internacional, pois Cabeção estava defendendo a seleção e Félix jogou na vitória de 2×1 contra o Newell´s Old Boys da Argentina. A equipe da Portuguesa deste dia foi: Félix, Zé Amaro e Nena; Giacomini, Manoel e Hermínio; Paulinho, Nelsinho, Ipojucã, Airton e Edmur.
Com a saída de Cabeção em 1957, a Portuguesa contratou no ano seguinte o goleiro Carlos Alberto, que havia jogado no Vasco da Gama. Félix passou a treinar com os aspirantes e foi campeão paulista em 1957. Depois foi emprestado ao Nacional da capital, onde jogou com o zagueiro e mais tarde técnico de futebol, Mário Travaglini. Retornou à Portuguesa no final de 1960, a pedido do treinador Nena, e assim finalmente, vestiu a camisa número 1 da Lusa. Foi titular absoluto de 61 até 63.
De 1964 até 1968, Félix passou a revezar com Orlando, que havia sido contratado junto ao São Cristóvão do Rio de Janeiro. Em 1964, a Portuguesa foi convidada para tomar parte nos eventos ligados à Feira Internacional de Nova York, e teve de enfrentar em Massachusetts, uma seleção local. O time da Portuguesa era respeitável, com Ivair (o príncipe), Henrique Frade, Almir e o campeão mundial Dida entre outros. O jogo estava tão fácil que, quando já estava 9×0, Orlando entrou no gol e Félix, em vez de deixar o campo, decidiu jogar no ataque. Após um cruzamento de Almir pela direita, Félix entrou na área e marcou o décimo gol. O jogo acabou 12×1.
Jogando pela Portuguesa, disputou quatro partidas pela seleção brasileira. Estreou no Pacaembu, em 21 de novembro de 1965 (domingo a noite), defendendo a chamada “seleção azul” na vitória de 5×3 sobre a Hungria. Esta seleção era composta somente por jogadores paulistas, que neste dia jogou desta maneira: Felix, Carlos Alberto, Djalma Dias, Procópio e Edílson; Lima e Nair; Marcos, Prado, Servilio e Abel. Felix também Disputou a Copa Roca em Montevidéu, contra o Uruguai, entre 25 de junho e 1 de julho de 1967, em três empates (0x0, 2×2 e 1×1).
A sua despedida pela Portuguesa, aconteceu no dia 3 de março de 1968, quando enfrentou o São Paulo F.C. e empatou em 0x0. Neste dia, a Portuguesa jogou com: Félix, Zé Maria, Jorge, Augusto e Marinho; Ulisses, Lorico e Paes; Ratinho, Leivinha (Basílio), Ivair e Rodrigues. Foi vendido para o Fluminense do Rio de Janeiro no dia 20 de julho de 1968 por Cr$ 150 mil.
No Fluminense teve uma brilhante passagem, onde foi campeão carioca e Taça Guanabara em 1969. Conquistou cinco títulos estaduais – 1.969, 71, 73, 75 e 76 e também a Taça de Prata de 1.970, que no ano seguinte passaria a ser o Campeonato Brasileiro, que teve o Atlético Mineiro como o primeiro campeão. O torcedor do Fluminense jamais esquecerá daquele time do início da década de 70, que tinha a seguinte formação: Félix, Oliveira, Galhardo, Assis e Marco Antônio; Denílson e Samarone: Cafuringa, Flávio, Mickey e Lula. E contava ainda com Ivair, Suingue e Ademar Pantera. Realmente uma máquina de jogar bola, principalmente em 1975, quando chegou Rivelino nas Laranjeiras. Félix jogou no Fluminense até 1976, quando resolveu encerrar sua carreira no dia 23 de janeiro de 1976, após o diagnóstico de uma calcificação de 7cm no ombro direito.
Foi o goleiro titular do Brasil na Copa de 70, apesar das fortes críticas sofridas por parte da imprensa esportiva da época. Vale a pena lembrar a seleção daquela ano: Félix, Carlos Alberto, Brito, Piazza e Everaldo (Marco Antônio); Clodoaldo, Gerson (Paulo César Caju) e Rivelino; Jairzinho, Tostão e Pelé. O técnico era Mário Jorge Lobo Zagallo. Pela seleção brasileira, Felix disputou 48 partidas, conquistando o bicampeonato da Copa Rio Branco em 1967 e 68 e o tricampeonato mundial de 70.
Depois que encerrou sua carreira futebolística, Félix foi diretor comercial de uma empresa cujo proprietário era seu genro, casado com Lígia, uma das três filhas. Atualmente coordena uma escolinha de futebol comunitária, voltada para as crianças carentes, além de passar sua experiência dentro e fora dos gramados, em palestras para empresas e faculdades. Em 2007, assumiu o cargo de diretor técnico da Internacional de Limeira, que disputou a Série A-2 do Campeonato Paulista. Félix faleceu dia 24 de agosto de 2012.
“Ficava um monte de moleques parados, olhando um para a cara do outro”
A gente não podia jogar futebol. Ligar rádio nem pensar. Todo mundo tinha que ficar quietinho em sinal de respeito. No dia mais triste do ano, a gente se limitava a ficar sentado na varanda esperando o passar das horas, torcendo para que elas fossem embora rapidamente. Era um tédio, mas fazer o que? Afinal, Cristo tinha sido crucificado, morto e sepulta
Todo conteúdo do livro está aqui e também neste blog: http://dispersosversoserrantes.blogspot.com/
Lançamento de "Dispersos Versos Errantes" na internet: 8 de novembro de 2010
SOBRE AS ILUSTRAÇÕES DO LIVRO-BLOG DISPERSOS VERSOS ERRANTES PRODUZIDAS POR ESTUDANTES EM 2003
Em 2003, pedi ao Marco Aurélio Fabretti, então e
Sempre fui apaixonado por futebol, uma paixão infinitamente maior do que a minha qualidade como jogador amador. Tenho muitas histórias de arquibancada e de sofá que marcaram minha vida de amante da bola. Tenho algumas de campo e de quadra, poucas, mas tenho.Tenho uma de 1971, quando tinha 13 para 14 anos. Guardo esta história com grande carinho porque foi a primeira vez que consegui ser protagonista num jogo (uma das poucas vezes, por sinal).
Vou contar.
“Miramos tanto no estilo de vida americano que deveríamos copiar o carinho e o respeito que eles têm por seus ídolos”
O basquete brasileiro comemorou, no último sábado, dez anos de uma de suas maiores conquistas: a medalha de ouro no Pan-Americano de Indianápolis. O feito se tornou ainda mais grandioso porque o adversário da final eram os Estados Unidos, que nunca haviam perdido em casa em toda a histó
“Quilômetros de papel e rios de tinta imprimem o futebol ao longo dos anos, atravessando gerações. Na era digital, as Imagens avançam pelos céus, rompem todas as fronteiras. As vozes do amor ao futebol ecoam pelo grande campo que é o mundo. Agora, em algum lugar, alguém chuta uma bola. A paixão mais documentada da história não para. O jogo nunca termina.”
(Antonio Roberto de Paula)
Rua Pioneiro Domingos Salgueiro, 1415- sobreloja - Maringá - Paraná - Brasil
(44) 99156-1957