“Portentosos edifícios cobrem o sol, tiram a cada dia um pouco da inocência desta cidade e se exibem de mãos dadas com o verde nos cartões postais”
Entre dúzias de cervejas e tijolinhos de presunto e queijo, estávamos reunidos jogando conversa fora. Ou melhor, de forma descompromissada desfilávamos um mosaico de situações cotidianas. A eloquência advinda do álcool proporcionava temas interessantes resultando em gostosas risadas. No meu canto, ouvia mais do que falava, o que não é comum para mim numa mesa de bar. À medida que o copo esvazia, minha verve se torna mais latente.
A presença de duas pessoas que vim a conhecer naquela hora talvez tenha sido a razão do meu quase mutismo inicial. Este é o tipo de inibição que não procuro combater. Falo à vontade quando estou ao lado de amigos. A chegada de estranhos me coloca na defensiva, mas que é rompida com facilidade. E como o número de desconhecidos tem aumentado nos últimos anos em Maringá!! A gente não consegue mais identificar a maior parte das pessoas num ambiente.
Éramos sete rodeando duas mesas quadradas com enormes logomarcas vermelhas ostentando o nome da cerveja. Som alto, ar enfumaçado, poucas mesas vazias, balcão repleto e bolas rolando nas duas mesas de sinuca. Fim de mais um dia de verão numa das mais belas cidades do Brasil.
Começo de noite no Jardim Alvorada, que nos anos 70 era chamado pejorativamente pelos moradores de outros bairros de Alvoroço. Num bar lotado, perto das 8 da noite, como ocorre na maioria dos mais de cem neste horário, espalhados pela Pedro Taques, Dr. Alexandre Rasgulaeff, Lucílio de Held, Sofia Rasgulaeff e outras avenidas que cortam o maior bairro da cidade, comentávamos sobre o progresso deste lugar.
As visões diferenciadas nos ajudam a compor um quadro mais preciso sobre Maringá e sua gente. A partir de relatos, como os de meus seis companheiros de mesa, de dramas, vitórias e derrotas e passagens interessantes, podemos entender com mais propriedade o espírito do povo maringaense que faz pulsar esta bela paisagem formada de largas calçadas e avenidas, tendo como testemunho o perpétuo verde.
Maringá foi planejada. Uma leva de aventureiros motivou a Cia de Terras a esquadrinhar o povoado. Quem chega primeiro toma água limpa, mas antes tem que matar a onça. Os primeiro maringaenses fizeram as duas coisas: abriram as matas e propagaram o paraíso. Por isto, cá estamos nós: os filhos, os filhos dos filhos, gente que chegou nos anos 80, nos 90, que nasceu aqui, que chegou ontem, que está chegando. Desde o final dos anos 30 muita gente vem batalhando nestas paragens. A soma de vitórias e derrotas pessoais teve e está tendo como conseqüência esta Maringá de 54 anos e de 300 mil habitantes, um orgulho para todos nós.
E cá estou, bebendo e conversando com seis cidadãos desta cidade num bar do Jardim Alvorada. Como poderia estar no Maringá Velho, Operária, Miosótis, Zonas 2, 4, 5, Borba Gato, Ebenezer, Cidade Nova e outros tantos nas mais de 200 vilas e loteamentos, grande parte devidamente asfaltada e arborizada. Ou quem sabe poderia estar de cotovelos fincados num balcão do distrito de Floriano ou de Iguatemi.
Ouvindo meu companheiro do lado dizer que seu pai trabalhou na Casa Jupiter, ali na Brasil, perto da Raposo Tavares, onde hoje existem várias lojas. Lembro que aqui, onde pisamos agora, foi no início da década de 60 uma grande fazenda de café do doutor Alexandre Rasgulaeff.
Felizmente mantiveram o mesmo traçado do centro, como fizeram em todos os bairros: calçadas, ruas e avenidas largas e árvores em profusão. Uma competente e bela uniformidade. O que me faz recordar a recente visita de uma comitiva japonesa. Depois de rodarem por quase uma hora, os japoneses cutucaram o motorista avisando-o que já haviam passado por aqueles lugares. Eles não sabiam que nossas avenidas têm a medida certa, o espaço ideal para o concreto e o verde. Uma harmonia para tirar qualquer oriental de sua decantada calma e sua comedida admiração.
Para o visitante, a Mandacaru, Pedro Taques, Teixeira Mendes, Riachuelo, Paissandu e Morangueira são as mesmas avenidas, assim como a 15 de Novembro e a Tiradentes, ou a Herval, Duque de Caxias e São Paulo. Para nós, que passamos diariamente por elas, não tem erro. Casas, edifícios, árvores e flores nos servem como referencial, mas o menos avisado vai conseguir diferenciar somente a Colombo das demais.
Com o passar dos anos, Maringá ficou mais encorpada. A madeira foi dando lugar para o cimento e já não é tão fácil olhar a linha do horizonte. Portentosos edifícios cobrem o sol, tiram a cada dia um pouco da inocência desta cidade e se exibem de mãos dadas com o verde nos cartões postais. O maringaense não se engana com suas avenidas. Cada uma tem sua personalidade própria.
“Quando chovia, depois da Colombo, tinha que pôr a bicicleta nas costas para poder chegar em casa”. Colocava um saco plástico em cada pé e amarrava as canelas com barbante. Só tirava no centro, quando descia do ônibus. Senão o barro cobria todo o sapato”. “No sábado, tinha brincadeira dançante em muitas casas. Na nossa vila podíamos entrar em qualquer uma. Fora, o pau comia”. “Carnaval no ginásio do Maringá Clube era uma loucura. Quem não era associado do Olímpico ou do Country ia lá. Depois levaram a festa para o Chico Neto, mas não teve mais graça”.
A turma de sete na animada mesa falava sem parar. Quase todos ao mesmo tempo. Numa mesa de bar o papo demora um pouco para engatar, mas depois flui normalmente, ainda mais quando o assunto diz respeito a todos. Maringá não foi um rio que passou em nossas vidas, como diz o poeta Paulinho da Viola. A Cidade Canção continua passando e a gente vai acompanhando até onde Deus quiser.
“O Grêmio campeão de 77? Sei o time completo : Vagner, Valdir, Nilo...Quer o banco também? O Didi jogava demais”. “O João Paulino não usava manga comprida. Vivia nas obras dando dura nos operários”. “Subimos numa turma na Catedral, quando ainda estava em construção. Chamaram a polícia. Viram a gente com o uniforme do Gastão e só passaram um sabão”. A Wanderléia foi cantar no Cine Horizonte com uma minissaia curtíssima. A moçada ficou babando. Em vez de mundo colorido a gente cantava fundo colorido”. “A gente tomava batida de vodka e saíamos em seis no Corcel branco do pai de um amigo, filando festas de casamento no Country, Maringá Clube e restaurantes do centro”. “Festamos até às 4 da manhã no Canjão. Matamos o Tiro de Guerra no sábado. Mas não teve jeito. O sargento Klein mandou nos buscar em casa”. “Eu levava um rádio-gravador enorme aos domingos no Parque do Ingá. Ficava deitado na grama com o som de Bee Gess nas alturas”.
Mesa animadíssima. Riso geral para cada lembrança. O curioso é que quando um falava, a gente entrava junto na história como se sentisse que alguns episódios tivessem sido copiados. Um dos motivos que reforçam o companheirismo é descobrir as experiências comuns. Por isso, naquele bar, fomos mais companheiros do que nunca.
Trocamos informações, remexemos gostosamente nas histórias em que atuamos como protagonistas, coadjuvantes ou meros expectadores. Passagens que fomos catalogando mentalmente em cada dia vivido em Maringá. Situações corriqueiras que vão virando história, que adquirem intensidade com o passar do tempo. Afinal, estamos ajudando, orgulhosamente, a compor esta canção chamada Maringá.
O relógio na parede, embutido na caixa de cigarros, brinde da multinacional, colou os ponteiros no 12 fazendo com que retornássemos da viagem. As três saideiras para os sete cidadãos que nasceram em Maringá, ou que aqui chegaram nas fraldas, estão no fim. Portas vão sendo fechadas. Amanhã começa tudo de novo. Cada um vai, novamente, lutar para o sustento da família e, consequentemente, para o desenvolvimento deste lugar. A gente não pode parar. Maringá não para.
(Do livro de Antonio Roberto de Paula, “Da Minha Janela”, de 2003. Textos publicados no Jornal do Povo a partir de 1997)
Sempre fui apaixonado por futebol, uma paixão infinitamente maior do que a minha qualidade como jogador amador. Tenho muitas histórias de arquibancada e de sofá que marcaram minha vida de amante da bola. Tenho algumas de campo e de quadra, poucas, mas tenho.Tenho uma de 1971, quando tinha 13 para 14 anos. Guardo esta história com grande carinho porque foi a primeira vez que consegui ser protagonista num jogo (uma das poucas vezes, por sinal).
Vou contar.
Verdelírio Barbosa começou a escrever em 1959 num jornal chamado O Diário de Maringá, de propriedade de João Antonio Corrêa Júnior, o Zitão, jornalista e escritor já falecido. O jornal, homônimo daquele que viria a ser lançado em 1974, era diário só no nome. Em dificuldades financeiras, circulava uma vez por semana, às vezes nem isso.
A entrada no jornalismo aconteceu depois que Verd
Verdelírio Barbosa e seus dois irmãos chegaram em Maringá no ano de 1951 trazidos pelo pai José Firmino Barbosa e a mãe Maria Cassiano da Fonseca Barbosa. A família saiu de São José do Rio Preto-SP e antes da Cidade Canção ficou em Guadiana, distrito de Mandaguaçu onde Verdelírio estudou o primário.
Foram morar na avenida Laguna. A memória de Verdel&iacut
A Cantina do Zitão, como vocês sabem, era um animado lugar onde os solteiros da recém-nascida Maringá se encontravam para saborear a comidinha gostosa de Dona Maria José. Desde janeiro de 1955, quando aqui cheguei, e por mais alguns anos, fui um dos clientes da casa. Ali, por afinidades várias, meus mais frequentes companheiros de mesa eram dois dos nossos mais ilustres pioneiros do ensino: José Hiran Sallé e Aniceto Matti. Do bom Hiran j
“Quilômetros de papel e rios de tinta imprimem o futebol ao longo dos anos, atravessando gerações. Na era digital, as Imagens avançam pelos céus, rompem todas as fronteiras. As vozes do amor ao futebol ecoam pelo grande campo que é o mundo. Agora, em algum lugar, alguém chuta uma bola. A paixão mais documentada da história não para. O jogo nunca termina.”
(Antonio Roberto de Paula)
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