Crônicas / Ronaldo no Flu e Igor em outra dimensão (1998)

“Quando contava as façanhas do meu ídolo, absorto naquela figura que deu tantas emoções à nação corintiana, recebi a notícia da morte do meu amigo Igor Massi”

   Já estava na metade do artigo sobre Ronaldo, o grande goleiro corintiano, campeão paulista em 88, 95 e 97, brasileiro em 90 e da Copa do Brasil em 95. Titular por dez anos na mais difícil posição e no clube mais difícil de atuar. Estava lembrando das suas grandes defesas e suas confusões que o impediram de ser titular absoluto da seleção brasileira. Ronaldo é bem melhor do que Taffarel, Carlos Germano e Dida. Qualquer torcedor, mesmo o que não seja corintiano, já que no meu caso a consideração é altamente suspeita, sabe que o Ronaldo é o melhor.

   Estava eu ocupando as linhas falando sobre Ronaldo, que foi para o Fluminense. Uma pena. Imaginava que o goleirão, que bateu o recorde de participações com a camisa do Timão - mais de 500 - iria ficar até os 40 anos no Parque São Jorge. Depois de Sócrates, Ronaldo foi meu maior ídolo do Corinthians.

   Recordo-me quando o Timão veio fazer um amistoso no Willie Davids com o Maringá. Mandaram um timeco. Depois das reclamações vieram os titulares. Entre eles o Ronaldo, que ao contrário do que dizem as más línguas - deve ser coisa de palmeirense - , distribuiu simpatia, abraços e autógrafos. Já estamos com saudades do Ronaldo. Vê-lo com outra camisa vai ser bastante esquisito.

   Pois bem, quando contava as façanhas do meu ídolo, absorto naquela figura que deu tantas emoções à nação corintiana, recebi a notícia da morte do meu amigo Igor Massi, ocorrida ontem, depois de um fulminante ataque do coração. Limpei a tela e, incontinenti, mudei de assunto. O forte e disciplinado Igor, de 68 anos, caseiro da chácara onde eu bato minha bolinha aos sábados, vai deixar saudades. Interrompi meu relato do Ronaldo para lembrar daquele homem de ar severo, mas que abria o grande sorriso com facilidade. Fiquei seu amigo rapidamente. Santista antes mesmo de Pelé, o seo Igor tinha grande prazer em tirar sarro dos corintianos. No Campeonato Brasileiro de 97, quando o Corinthians estava caindo pelas tabelas e a pique de ser rebaixado, fui uma das maiores vítimas do seo Igor. Quando eu chegava, lá vinha ele para o meu lado dando risada.

   “O Ronaldo só não é titular da seleção por causa do temperamento”, dizia, e  reclamava a presença de Muller e achava Luxemburgo arrogante. Vai ser difícil chegar no sábado à tarde e não ter o seo Igor para recepcionar a gente, oferecer um cafezinho, falar de futebol e da vida. Toda aquela moçada do bate-bola na chácara da Casa das Lixas está de luto: Zé Carlos, Augusto, Renato, Reinaldo, Maicon, Fábio, Di, Chapecó, Amarildo, Cleber, Roberto, Graia, Akira e o Mané. Toda esta turma e tantos outros que sempre foram bem recebidos pelo seo Igor estão entristecidos. Hoje, em vez da gente se reunir no gramado, tão bem cuidado por ele, vamos ao cemitério, às 10 horas, prestar-lhe nossa última homenagem. Já estamos com saudades.

(Do livro de Antonio Roberto de Paula, “Da Minha Janela”, de 2003. Textos publicados no Jornal do Povo a partir de 1997)

 

Veja Também

Jogando contra o tempo

“Derrama algumas lágrimas ao pensar no dia em que estiver de fora vendo os garotos tropeçando na bola”

   A bola foi esticada da direita para a esquerda. Uma perfeita diagonal. Da lateral até a ponta. Pedrão está cinco metros à frente do zagueiro, mas chega atrasado. Pesam os 47 anos e a barriga saliente. Vinte anos antes, ganharia na corrida e quando o adversário viesse babando para dar o carrinho, ele

Valdir Pinheiro, o catador de milho

(Capítulo do livro "O Jornal do Bispo - A história da Folha do Norte do Paraná", escrito em 2001 por Antonio Roberto de Paula)

Um dos repórteres mais queridos e lembrados da Folha do Norte é Valdir Pinheiro, que morreu em dezembro de 2000, em decorrência de problemas respiratórios, aos 52 anos.

Valdir passou a ser uma referência quando se fala de paixão pelo jornalismo. Ele conquistou seu espa&cced

Walter Poppi e o amor à camisa

Durante nove anos, Walter Poppi escreveu na Folha do Norte. De 1970 até o jornal cerrar as portas em 1979. Poppi começou precocemente. Aos 14 anos, em 1962, no O Jornal de Maringá, estava escrevendo as primeiras laudas como auxiliar de Antonio Calegari, o Foquinha, considerado um dos melhores repórteres policiais da época.

Antes de ir para a Folha, Poppi trabalhou quatro anos na Prosdócimo, empresa de móveis e eletrodomést

O Diário do Norte do Paraná e o seu papel na história

No final de 2008, o amigo Rogério Recco me convidou para que escrevêssemos um livro sobre este O Diário, jornal que comemorou 35 anos no dia 29 de junho de 2009. Após meses de pesquisas e entrevistas, o trabalho ficou pronto. Depois de folhearmos milhares de páginas, anotar, fotografar e conversar com muita gente, o livro foi publicado.

     Ninguém sai incólume depois de mergulhar intensamente no passado, como

 Rua Pioneiro Domingos Salgueiro, 1415- sobreloja - Maringá - Paraná - Brasil

 (44) 99156-1957

Museu Esportivo © 2016 Todos os diretos reservados

Logo Ingá Digital