Os primeiros registros fotográficos do Maringá Velho e do Maringá Novo são creditados a Shizuma Kubota, do Foto Primeiro, e ao seu cunhado Tutomo Samuki, do Foto Moderno, este, responsável por grande parte das imagens aéreas da cidade nos anos 40 e 50. Soma-se a esta dupla histórica a família Eidan, do Foto Lux, aberto em 1948 no Maringá Novo. Excetuando as fotos e vídeos dos estúdios e produtoras contratados pela Cia Melhoramentos Norte do Paraná, a memória imagética pioneira da cidade tem a assinatura de Kubota, Samuki e da família Eidan.
Os irmãos Ueta, Yukio, Tetsuo e o caçula Kenji chegaram em 1951, se estabeleceram no Maringá Novo, na avenida Duque de Caxias, e prosperaram. Com o nome “Foto Maringá”, abriram estúdios em vários locais da cidade e também na região. Depois de 15 anos, separaram a sociedade. Yukio, que ensinou a Kenji a arte e a técnica da fotografia, parou com a profissão e Tetsuo foi para Ponta Grossa e continuou no ramo.
Kenji Ueta entra para a história de Maringá não apenas por ser um comerciante que, aos 24 anos de idade, já casado com Yoshiko Nakagawa e com o filho Shiniti, veio tentar a sorte em um lugar promissor, depois de tentativas frustradas na lavoura, em balcão de bar e de quitanda, numa pastelaria, como tintureiro e numa loja de tecidos.
Kenji ultrapassou os limites do fotógrafo de casamentos, batizados, formaturas, inaugurações, desfiles, comícios, quermesses e bailes de gala. Talvez, mais maravilhado com a cidade que crescia a cada nascer do sol do que com a consciência de estar perenizando paisagens, o japonês nascido em Fukushima Ken em 5 de agosto de 1927, que desembarcou do navio Santos Maru, no Porto de Santos, em 1933, registrou uma época.
Por meio das fotografias, ele contou a história de ruas e avenidas, desde as vias sem melhorias, depois a colocação dos meios-fios, os postes, os paralelepípedos, o asfalto. Os lotes, as casas de madeira, as de alvenaria, as edificações públicas, as praças. Tudo isso com suas mudanças, paisagens alteradas rapidamente.
As personalidades históricas, as campanhas eleitorais, os eventos públicos. Ao longo dos anos, novos fotógrafos surgiram, registraram a cidade e suas transformações, mas pela longevidade e sensibilidade, Kenji se destacou. Inicialmente com os disparos na sua Linhof alemã, comprada a duras penas em 1951, relíquia que mantém até hoje, selou uma história de amor a Maringá que atravessa décadas.
Condecorado com a medalha do Imperador do Japão, entregue pelo consulado daquele país em Curitiba, Kenji fala com orgulho das coberturas fotográficas que participou quando das visitas a Maringá, em 1978, do então príncipe japonês Akihito e a esposa Michiko; do príncipe Naruhito em 1982; e o retorno de Naruhito, em 2008, nas comemorações do Centenário da Imigração Japonesa. De todas as personalidades que fotografou, a família real ocupa lugar de destaque e faz seus olhos brilharem ao comentar emocionado sobre o que ele chama de honra e privilégio ter feito os registros.
E tome registros históricos. No cargo de presidente da República: Jânio Quadros, João Figueiredo e Collor de Mello; Adhemar de Barros em campanha para a presidência; Tancredo Neves no ano em que foi eleito presidente pelo Colégio Eleitoral; no cargo de governador do Paraná: Ney Braga, Paulo Pimentel, José Richa, Alvaro Dias, Jaime Canet, Roberto Requião e Jaime Lerner; os prefeitos de Maringá, desde Inocente Vilanova Júnior; ministros, deputados, secretários estaduais, vereadores. Todos viram os flashes de Kenji Ueta.
A posse de Inocente Villanova Júnior e dos vereadores da primeira legislatura, dia 14 de dezembro de 1952; a chegada de Portugal da imagem original de Nossa Senhora de Fátima, em 1953; a chegada da a chegada do primeiro trem em Maringá, em janeiro de 1954; a apresentação de Alvarenga e Ranchinho, dupla sensação do Brasil na década de 50, no auditório superlotado da Rádio Cultura de Maringá; a fonte luminosa da praça Raposo Tavares inaugurada pelo prefeito Américo Dias Ferraz em 1957; os destroços do avião da FAB, da Esquadrilha da Fumaça, que caiu na praça Raposo Tavares em maio de 1957, durante apresentação no aniversário da cidade; todas as etapas da construção da Catedral Nossa Senhora da Glória, desde o lançamento da pedra fundamental em 1958 até a inauguração em 1972; a vinda a Maringá da Miss Brasil 1969, Vera Fischer.
Numa época em que dar crédito para o autor de fotos em publicações era dispensável e raro o pagamento por direitos autorais, as imagens de Kenji rodaram o Paraná e o Brasil sem que ele ganhasse mais por isso. Ele recebia do promotor pela cobertura do evento social, político, esportivo ou religioso ou fazia por conta própria. Não havia a identidade do autor. Fosse hoje, a popularidade de Kenji seria bem maior, assim como os rendimentos. Faz-se necessário constar que nos anos 80, jornais de Curitiba chegaram a contratar os serviços de Kenji quando governadores e ministros visitavam a cidade ou para o registro de algum fato de repercussão.
Kenji trabalhava em várias frentes. Além das fotos em festas, bailes, inaugurações, casamentos e batizados, fotos para a polícia. Quando ocorria assassinato, ele era chamado para fotografar o corpo para que as fotos fossem anexadas ao inquérito e ao consequente processo na Justiça. Kenji também era chamado para fotografar acidentes de carro no perímetro urbano ou em rodovias, afogamentos e incêndios.
E não foram poucas as vezes em que foi chamado pela família para fotografar o ente querido morto no caixão, e ainda registrar o velório, a ida ao cemitério e o sepultamento. Um costume que, por mais macabro possa parecer nos dias de hoje, era comum, principalmente entre as famílias abastadas. Prática que perdurou até o início dos anos 60.
Casado com Yoshiko há quase 70 anos, pai de quatro filhos, dois morreram com poucos meses de vida, seis netos, cinco bisnetos, figura histórica da ACEMA (Associação Cultural e Esportiva de Maringá), desde os tempos da Socema (Sociedade Cultural e Esportiva de Maringá), tendo ocupado vários cargos ao longo das décadas, principalmente nos grupos de canto (sim, ele é afinado e tem boa voz), Kenji levanta cedo todos os dias e vai para o seu estúdio na avenida Herval esquina com a rua Neo Alves Martins. Prestes a completar 90 anos, está sempre com um sorriso pronto. Seu amigo de passeio pelas imediações da loja é Akeji Komati e seu passatempo é pegar fotos antigas e contar um caso sobre cada uma delas. Kenji deu imagens à história de Maringá e virou uma bela, justa e necessária história para ser contada.
(Crônica de Antonio Roberto de Paula originariamente publicada no livro “Maringá 70 anos – a cidade contada pelos que viveram sua história”, editado pela Unicesumar, tendo como autores Antonio Roberto de Paula, Dirceu Herrero Gomes, Miguel Fernando Perez Silva e Rogério Recco, 2017, 2018)
“Portentosos edifícios cobrem o sol, tiram a cada dia um pouco da inocência desta cidade e se exibem de mãos dadas com o verde nos cartões postais”
Entre dúzias de cervejas e tijolinhos de presunto e queijo, estávamos reunidos jogando conversa fora. Ou melhor, de forma descompromissada desfilávamos um mosaico de situações cotidianas. A eloquência advinda do álcool proporciona
Maringá das casas de madeira, com suas singelas varandas; suas cercas de balaústres separando terrenos e unindo vizinhos; longas conversas ao luar; habitantes iluminados e felizes, cúmplices de um tempo e de um lugar.
Maringá da poeira e do barro, das ruas de lâmpadas amarelas, de seus lentos veículos, geradores, limpa-pés, fogões de lenha, pomares e galinhas no terreiro. Maringá
Nosso amigo do Museu Esportivo de Maringá, o advogado Reginaldo Aracheski, criador do Memorial do Futebol da Lapa, cidade paranaense histórica, fundada em 13 de junho de 1769, conta a Antonio Roberto de Paula detalhes de um amistoso realizado na Itália, em 1963, entre a seleção daquele país e a brasileira:
'O primeiro, à direita, na foto é Angelo Benedetto Sormani, meu amigo que mora em Roma. Nesse amistoso,
Meados da década de 1960. Chico ia passando de jipe, brecou, abriu a porta, mandou-me entrar: “Vamos até Marialva?”. Não perguntei para quê. Fui. Chegamos a uma torre que ele erguera no ponto mais alto da vizinha cidade. “Sobe?” Subimos. Uma vista fascinante. Diante de nós aquele verde e vasto planalto onde Maringá se destacava como futura metrópole. Chico, um idealista. Um sonhador contagiante.
Seu prop&oacut
“Quilômetros de papel e rios de tinta imprimem o futebol ao longo dos anos, atravessando gerações. Na era digital, as Imagens avançam pelos céus, rompem todas as fronteiras. As vozes do amor ao futebol ecoam pelo grande campo que é o mundo. Agora, em algum lugar, alguém chuta uma bola. A paixão mais documentada da história não para. O jogo nunca termina.”
(Antonio Roberto de Paula)
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