Crônicas / Benivaldo Ramos Ferreira, que fundou o ABC - Associação Barnabé Clube de Maringá

 

     Benivaldo Ramos Ferreira tem muitas lembranças do seu tempo de funcionário da Prefeitura de Maringá, iniciado na administração de Inocente Villanova Junior, quando era ainda adolescente, passando por Américo Dias Ferraz, João Paulino, Luiz de Carvalho, Adriano Valente, Silvio Barros, Said Ferreira e Silvio Barros II por último. Nessas administrações exerceu funções diversas na secretaria de Fazenda, na extinta Autarquia de Fomento Agropecuário, sendo diretor financeiro e depois diretor-presidente e chefe de gabinete na primeira gestão de Silvio Barros II.

      São muitas as recordações dessas décadas de serviço público, as mais marcantes relacionadas a João Paulino: “Ele era muito bravo, centralizador. Quando alguém era chamado no gabinete, tremia de medo. Ficava todo mundo esperando a saída do infeliz para ver o que tinha acontecido.”

     O baiano de Itabuna, nascido em 9 de outubro de 1939, conta que o frio do medo também percorreu a sua espinha mais fortemente numa ocasião em especial. Após o expediente, ele costumava ligar para Dulse Telles, então sua namorada. Alguém o “entregou” para o prefeito. Quando ele entrou na gabinete para se explicar para o Dr. João Paulino e a porta foi fechada, ele teve a certeza de que os ouvidos dos colegas de trabalho ficaram encostados na parede para ouvirem a bronca.

      O prefeito quis saber para quem ele telefonava. Benivaldo confessou. Para seu espanto, João Paulino foi só elogios porque conhecia a família de Dulse, conversou amenidades com o rapaz, falou que a namorada era uma ótima moça, que ele podia continuar ligando. Não teve reprimenda e Benivaldo deixou o gabinete se sentindo mais alto do que seu 1,90 cm.

      Um homem bravo, centralizado e justo, acrescenta Benivaldo sobre JP. Na primeira gestão, o prefeito enfrentava uma forte oposição dos vereadores Arion Ribeiro de Campos e Joaquim Ferreira Dias, este pai de Benivaldo, mas nunca houve qualquer tipo de retaliação com o funcionário filho do algoz de JP ou a consideração diminuída.

     O petebista Joaquim chegou em Maringá em 1946, teve 15 filhos, era topógrafo do Departamento Nacional de Estradas de Ferro (DNEF), fazendo um trabalho de Minas Gerais até o Paraná. A sede era em Apucarana e o órgão tinha um escritório no Maringá Velho porque estava sendo demarcado o trajeto da ferrovia até Maringá, a preparação do solo para a colocação dos dormentes e a instalação dos trilhos. Um trabalho que começou ainda nos anos 40 até a chegada da primeira locomotiva em 1954. Joaquim Macaco, apelido que recebeu que o filho não sabe a razão, gostou da cidade, deixou o DNEF e foi trabalhar com o cerealista Américo Dias Ferraz, prefeito eleito em 1956.

     A primeira escola que Benivaldo frequentou foi a Visconde de Nácar, hoje Dr. José Gerardo Braga, no Maringá Velho, onde fez o curso primário; no Colégio Dr. Gastão Vidigal, com endereço na rua Martin Afonso, concluiu o ginásio; e no Marista se formou em técnico de contabilidade. Formado em filosofia e ciências econômicas pela UEM, tem ainda o curso de direito. Membro do Rotary Clube e de clubes sociais de Maringá, diretor do Grêmio de Esportes Maringá em 1977, ano em que o clube conquistou o Campeonato Paranaense, Benivado participou da fundação da Expoingá, que teve sua primeira edição em 1972, chamada de Expofemar, vindo a presidir a feira de 1975 a 1978.

     O médico mineiro Luiz de Carvalho, prefeito de 1965 a 1968, era, segundo Benivaldo, extremamente gentil e aumenta o elogio: “Era um homem extraordinário.” Durante a administração de Carvalho, Benivaldo fundou um time de futebol somente de servidores municipais, o ABC (Associação Barnabé Clube). Com o sucesso da equipe e o congraçamento dos servidores, ele pensou em pedir para a Cia Melhoramentos um terreno para criar uma cooperativa. O prefeito disse que ele tinha que pensar mais adiante. Em vez de uma cooperativa, uma associação dos funcionários da Prefeitura.

     A ideia foi colocada em prática. Com o beneplácito de Luiz de Carvalho, Benivaldo foi pedir o terreno para a sede da AFMM (Associação dos Funcionários de Maringá) ao gerente da companhia, Alfredo Nyffeller, e foi atendido: na avenida Mauá, próximo da avenida São Paulo. Fundada no dia 26 de setembro de 1967, a sede fica hoje na avenida Morangueira. Benivaldo articulou para que o primeiro presidente da AFMM fosse o médico Sebastião Pimentel, já falecido, que foi secretário municipal de Saúde, seu amigo. Ele conta que até resta uma pontinha de arrependimento pela escolha: “O Dr. Luiz de Carvalho me chamou em particular e disse para eu ser o primeiro presidente da Associação. ‘Você não quer ficar para a história? Numa associação, só o presidente fica para a história. Não importa o quanto você tenha feito, se não for o presidente, ninguém vai se lembrar.’ Tudo bem. Com o Sebastião ficou em boas mãos”, afirma resignado.

     Com Dulse Telles Ferreira, que faleceu em 2007, Benivaldo teve três filhos e cinco netos. Morando em um apartamento no centro da cidade, a presença de familiares é constante. Figura afável, extremamente educado, voz tranquila, abre álbuns de fotos sobre a mesa grande e escura da sala, se emociona. Benivaldo menino, jovem, na fase adulta, ainda de bigode e cabelos pretos, com a família, com os colegas de trabalho na Prefeitura, em inaugurações, nos clubes, ereto em fotos de times de futebol... A vida de Benivaldo vai sendo apresentada nas imagens retangulares em preto e branco. A vida de Maringá também sendo contada pelo menino que pisou este chão pela primeira vez mais de setenta anos atrás.

(Crônica de Antonio Roberto de Paula originariamente publicada no livro “Maringá 70 anos – a cidade contada pelos que viveram sua história”, editado pela Unicesumar, tendo como autores Antonio Roberto de Paula, Dirceu Herrero Gomes, Miguel Fernando Perez Silva e Rogério Recco, 2017, 2018)      

Veja Também

O sorriso do velho

(Antonio Roberto de Paula

     Pelo que sei, tinha vindo do norte. Não sei qual norte. Ou seria do sul? Que era corintiano até a raiz, transferência da paixão que vinha do bisavô, mas nunca chutara uma bola. Gostava de cerveja aos domingos e nos outros dias da semana também. Sei que gostava de mulheres. Isso mesmo, no plural. De todas as cores, idades, vocações e tamanhos. No final, sossegou.

O parque (quase não) do Ingá (A. A. de Assis)

A primeira vez em que lá entrei foi em 1967, em companhia do prefeito Luiz de Carvalho. O local era ainda conhecido como “Bosque 1” – um pedacinho da antiga floresta em meio à qual a população pioneira construiu a garbosa urbe onde hoje a gente orgulhosamente mora.

     Havia apenas uma trilha rústica, pela qual caminhamos até o miolo da matinha. Durante o percurso, Doutor Luiz foi chamando a atenç

Gumercindo Carniel, que punha para funcionar a máquina da Folha do Norte

 Vindos do interior paulista, os irmãos Carniel eram donos de 40 alqueires em Maringá, numa faixa de terra que incluía o Jardim Industrial, o Parque Itaipu até o Contorno Sul. Antonio chegou primeiro, em 1944, viu as terras, gostou, alugou uma casinha e chamou os irmãos. Adquiriram as propriedades junto à Cia Melhoramentos Norte do Paraná.

     José, um dos irmãos, sitiante em Presidente Bernarde

O rapazola dos bailes, bola e microfone

Otacílio Tatá Cabral de Souza chegou em Maringá há mais de 60 anos. Veio de Santos-SP, onde nasceu. Seu pai, Valter Cabral de Souza trabalhou nos anos 50 na Cafeeira Santa Luzia, do prefeito Américo Dias Ferraz. A família morava no Maringá Velho, numa casa atrás do Hotel Nossa Senhora de Fátima. Tatá veio com o terceiro ano do curso primário, o quarto ano foi no Curso Pernambucano de Ensino, na rua Aquidaban, hoje Ne

 Rua Pioneiro Domingos Salgueiro, 1415- sobreloja - Maringá - Paraná - Brasil

 (44) 99156-1957

Museu Esportivo © 2016 Todos os diretos reservados

Logo Ingá Digital