Nascida na cidade paulista de Guará, em 1939, a enfermeira Diva de Souza Fernandes chegou em Maringá no ano de 1946, com a mãe, a viúva Angélica Evangelina de Souza e seus quatro irmãos: Azezu, José, Getúlio e Daniel. O marido de Angélica falecera dois anos antes e diante das dificuldades em Guará, ela resolveu tentar a sorte na nova cidade. O primeiro endereço foi um rancho de palmito no Maringá Velho. Angélica conseguiu emprego de cozinheira no Hospital Santa Cruz, do médico Lafayette da Costa Tourinho, e depois no Hospital São Paulo.
Como Azezu e Getúlio jogavam no time do SERM (Sociedade Esportiva e Recreativa Maringá), eles conseguiram que a família se mudasse para a casa de madeira e de telhas de barro no campo do clube, onde hoje é a sede do Sesi. Cabia à Angélica lavar o uniforme do time. Diva conta que ela e os irmãos eram encarregados de fazer as demarcações do campo, que ainda era de terra. Dos times que atuavam contra o SERM, ela se recorda muito bem da Placa Pinguim, que tinha como jogadores os irmãos Carniel e Pelego. “Aos domingos, enchia de gente pra ver. Era um grande divertimento, uma festa”, lembra Diva, com saudade. “Meus irmãos eram muito bons de bola”, diz, orgulhosa.
Na casa do campo do SERM, eles ficaram de 1952 a 1955. A família que ocupou a casa foi a do Parafuso, pai do sapateiro Rebite, goleiro dos bons. Angélica e os filhos foram morar na rua Cleópatra, hoje Nelson Abrão, nos fundos de uma lanchonete. É que Angélica se casara com um “gato”, o recrutador de gente para trabalhar nas derrubadas de mata, que também era dono da lanchonete. Angélica era a cozinheira e os peões comiam no estabelecimento.
Neste interim, os filhos foram buscando ocupação no comércio do Maringá Velho. Azezu foi trabalhar em um armazém de secos e molhados e Diva na casa da família Haddad, de Nassib e Regina, que tinham os filhos Calil, Seme, Jorge, Fauze e a moça Adib. Da casa, Diva foi para a lanchonete da família Haddad.
Diva conheceu Lázaro Antonio Fernandes em 1955, ano em que ele chegou em Maringá, vindo de Cambará, para trabalhar na Sapataria Carnelossi. O casamento foi na Catedral de madeira, em 1957. Foram morar na rua Cleópatra esquina com a rua Pinguim, hoje Antonio Carniel. Tiveram cinco filhos Jadismar, nascido em 1958; Josimar, em 1959, que faleceu com um mês de vida; Débora Regina, em 1963; Maria Angélica, em 1964; e Cláudio Sérgio, em 1966.
Em 1972, Lázaro montou um negócio próprio. A Sapataria Diniz, na avenida Brasil, no Maringá Velho, nome herdado do antigo dono. Aos sábados, Diva ajudava no conserto e na fabricação de sapatos, botas e botinas. A clientela, sem sua maioria era da zona rural. Durante a semana, Diva tinha outra ocupação além de cuidar dos filhos: o curso de enfermagem na Escola Carlos Chagas, localizada próximo à Catedral Nossa Senhora da Glória. A instituição, segundo Diva, não era reconhecida pelo Conselho Regional de Medicina.
Havia uma forte razão para que Diva escolhesse a profissão de enfermeira além do fato da sua mãe tê-la inspirado: Jadismar e Maria Angélica nasceram com necessidades especiais. Diva aprendeu a aplicar injeção, primeiros socorros e se inteirou sobre medicamentos que eram ministrados aos filhos. Sabia que caberia a ela os cuidados especiais para com as crianças.
Jadismar ingressou na Apae em 1965, sendo o primeiro aluno da instituição em Maringá. “Ele sofreu muita discriminação antes da Apae. Nenhuma escola queria fazer a matrícula dele. Na Apae se desenvolveu muito bem, trabalhou num projeto de viveiro, o “Cultivar”, com o apoio da Cocamar. O Jadismar é uma pessoa muito alegre, comunicativa”, diz Diva. Maria Angélica entrou na Apae em 1969.
Em 1979, mesmo com a contrariedade de Lázaro, ela conseguiu uma casa no Conjunto Branca Vieira e lá foi morar com os filhos. A relutância do marido, que insistia em continuar residindo no Maringá Velho, durou algum tempo. Quando viu que não conseguiria trazer a família de volta para a casa alugada, se rendeu e foi se juntar à esposa e às crianças.
A primeira carteira assinada de Diva foi na Prefeitura de Maringá. Em 1983 fez concurso e foi aprovada para atuar na área da saúde do município. Na década de 1980, na administração de Said Ferreira, Diva fez parte do grupo que atuou na descentralização dos postos de saúde. Durante o tempo em que trabalhou na prefeitura, ela procurou se especializar, fez diversos cursos oferecidos pelo município. O trabalho junto à comunidade a levou a ser presidente da Associação de Moradores do Conjunto Branca Vieira e também membro do Conselho Municipal da Mulher.
Aposentada, já não mora mais no Branca Vieira. Foram 31 anos vivendo naquele bairro. Ficou viúva e hoje vive com os filhos em um apartamento próximo à avenida JK, com exceção de Cláudio, servidor público municipal, que é casado. Débora é funcionária da Sanepar há 32 anos.
Lázaro morreu em 2001. Três anos antes, tinha sido atropelado na avenida Colombo. O sapateiro nascido em Jacarezinho, que morou em Cambará e veio para Maringá na década de 1950, nunca mais conseguiu se recuperar. As múltiplas fraturas o tornaram paralítico até o fim da vida, aos 71 anos.
Avó de dois filhos de Cláudio, Lorena, nascida em 1988, e Augusto, em 1993, Diva se lembra com saudades dos primeiros anos em Maringá, fala com carinho da mãe, uma guerreira, e dos queridos irmãos. Conta que Azezu, o craque de bola do SERM, era vigia de uma máquina de arroz em Doutor Camargo, cidade próxima a Maringá. Em 1972, numa tentativa de assalto, Azezu morreu depois de apanhar bastante dos bandidos.
Não há mágoas, revoltas. Há fatos alegres e tristes, tempo de grandes dificuldades e tempo de conquistas. Há uma traumática, sofrida e bela história. Enquanto vai contando, volta e meia Diva é interrompida, ora por Jadismar, ora por Maria Angélica. Seu sorriso compreensivo revela todo o amor que sente pelas suas joias. Seus filhos não interromperam sua vida. Mostraram-lhe um caminho.
(Crônica de Antonio Roberto de Paula originariamente publicada no livro “Maringá 70 anos – a cidade contada pelos que viveram sua história”, editado pela Unicesumar, tendo como autores Antonio Roberto de Paula, Dirceu Herrero Gomes, Miguel Fernando Perez Silva e Rogério Recco, 2017, 2018)
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Ando abrindo antigos álbuns de fotografias com uma assiduidade assustadora. Fico imaginando se não é o inconsciente medo de ficar velho que faz com que eu me agarre de alguma maneira ao passado, na tentativa de buscar restos de uma juventude que o inexorável tempo fez esvair.
Ou essa mania nada mais é do que visitar uma época em que a inocência ainda não havia saído do meu rosto, em
O amigo do Museu Esportivo de Maringá, Jair Carvalho, que todos conhecem como Golê, meio-campista que, mesmo aos 64 anos, continua batendo muito bem na redondinha, atuando nos campeonatos do Clube Olímpico de Maringá e defendendo as cores da equipe veteraníssima do Museu Esportivo de Maringá, fez um gol-relâmpago, em 1974, aos 18 anos, quando jogava na equipe amadora do time da cidade de Atalaia, 53 quilômetros de Maringá.
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“A Escola de Datilografia Triunph por ocasião da formatura de mais uma de suas turmas promovia no salão de festas do Aero Club movimentadíssima audição dançante ao som do conjunto de Ritmos Júnior”. Esta foi uma das notas que Franklin Vieira da Silva, o Frank Silva, colocou na sua coluna “Crônica Social”, na primeira edição da Folha do Norte.
Frank, que chegou em Maringá e
E abrindo a porta da velha edícula, abre o arquivo de memórias. Lágrimas serenas brotam. Ele não sabe identificá-las, não consegue sequer saber por que está chorando. É a liquidez da saudade gerada pela solidez de uma história, ele imagina. No cenário do passado, destacam-se velhas bolas de capotão, no canto, murchas, há tempos sem levar um chute.
Então, enquanto
“Quilômetros de papel e rios de tinta imprimem o futebol ao longo dos anos, atravessando gerações. Na era digital, as Imagens avançam pelos céus, rompem todas as fronteiras. As vozes do amor ao futebol ecoam pelo grande campo que é o mundo. Agora, em algum lugar, alguém chuta uma bola. A paixão mais documentada da história não para. O jogo nunca termina.”
(Antonio Roberto de Paula)
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