Últimas Publicações / A força que vinha do interior

Texto de Reginaldo Benedito Dias, professor e historiador. Nota prévia: este texto foi publicado em O Diário do Norte, em 2011. Poderia tê-lo trazido até os dias de hoje, mas a análise se mantém atual. Os títulos conquistados pelo Londrina (2014) e pelo Operário (2015) não alteram a tendência descrita. 

Recentemente, o caderno de esportes de “O Diário” realizou interessante reportagem sobre as glórias passadas do futebol profissional de Maringá. Na condição de historiador, comentei aspectos políticos do período. Uso este espaço para alongar minhas observações. O último título estadual de Maringá (na primeira divisão) ocorreu em 1977, há 34 anos. Significa dizer que só pessoas com 40 anos podem ter lembranças diretas dos acontecimentos. Vive-se, hoje, a supremacia dos times de Curitiba. Entretanto, nem sempre as coisas foram tão avassaladoras.

Entre 1962 e 1981, os times de Maringá e Londrina ganharam cinco títulos estaduais. O Londrina foi campeão em 1962 e 1981. O Grêmio Esportivo foi campeão em 1963 e 1964. O Grêmio de Esportes conquistou o título em 1977. Em 1981, galo e tubarão decidiram o título. Em 1980, o Cascavel dividiu o título com o Colorado. Ao longo desses anos, o Atlético Paranaense foi campeão apenas uma vez (1970). Se isolarmos dois períodos, os números impressionam. Entre 1962 e 1964, o título ficou na terra dos cafezais, circulando entre Maringá e Londrina. Entre 1977 e 1981, o interior conquistou três títulos em cinco disputas. Depois disso, as coisas mudaram. 

Não deve ser coincidência o fato de o auge do futebol do interior acontecer no período em que havia mais equilíbrio entre as regiões Norte e Sul. No início da década de 1970, a região compreendida entre Maringá e Londrina, que especialistas definem como Norte Central, era a mais dinâmica do Paraná. Superava a região de Curitiba tanto na questão econômica quanto em termos populacionais. Essa tendência alterou-se nas décadas seguintes. Atualmente, a região Metropolitana de Curitiba concentra os principais impulsos de crescimento econômico e de atração demográfica, criando uma preocupante desigualdade com outras regiões do Estado. 

À supremacia dos times da capital corresponde essa desigualdade nas estruturas econômicas e de poder. Entretanto, não se pode atribuir os baixos resultados esportivos de Maringá e Londrina exclusivamente a esse fator. A região Norte Central ainda mantém certo dinamismo e é um dos principais pólos do estado. Também é preciso refletir sobre o fato de, nos últimos anos, os principais resultados do interior terem sido obtidos por clubes de menor tradição, como exemplifica o caso do Paranavaí, campeão em 2007. Mesmo que esse desequilíbrio entre as regiões não explique tudo, precisa ser considerado. Qualquer que seja sua incidência no universo futebolístico, trata-se de uma questão para o planejamento do Paraná, a ser enfrentada pelos agentes públicos.

Em 1977, parecia que o Grêmio de Esportes resgatava a tradição de glórias do Grêmio Esportivo, do qual herdara as cores e os símbolos. Ninguém podia imaginar que, décadas depois, o canto do galo poderia ser entendido como o canto do cisne. De lá para cá, houve momentos de competividade, como a disputa do título em 1981, mas a história recente faz lembrar o mito de Sísifo, legado pela cultura clássica. Sísifo é um personagem condenado pelos deuses a carregar, até o topo de uma montanha, uma pesada pedra. O problema é que, toda vez que sua tarefa parece concluída, a pedra desce à base da montanha e ele, Sísifo, tem de repetir, todos os dias, o mesmo trabalho, conduzir a pedra até o topo. Quando e como conseguiremos ultrapassar esse ciclo?

#museuesportivodemaringa #amigosdomuseuesportivo

 

Comentários

Seja o primeiro a comentar.

Enviar Comentário


Outras Publicações

Descanse em paz, João Paulo Lopes, 82 anos, nome na história do futebol amador e do salonismo maringaense

Foto 1 - 1968 - Uma foto muito significativa. Tetuo Nishiyama, um dos fundadores da Liga de Futsal de Maringá (14 de maio de 1971), falecido em 2000, aos 58 anos, cumprimenta João Paulo, um dos grandes nomes do salonismo nas décadas de 70 e 80, campeão maringaense naquele ano pela Associação Prosdócimo.

Foto 2 - Do arquivo pessoal do João Paulo, jogador de futebol e de futsal de Maringá nas décadas de 50, 60 e 70.

Confira as fotos do lançamento do projeto "Parceiro do MEM" no dia 11 de junho de 2019

Confira as fotos do lançamento do projeto "Parceiro do MEM" no dia 11 de junho de 2019.

Carteirinha de sócio do Grêmio Esportivo Maringá doada por Valdecir Guidini de Morais

Nosso amigo do Museu Esportivo, Valdecir Guidini de Morais, pioneiro maringaense, promotor público aposentado, esteve no MEM no dia 23 de março de 2019 quando homenageamos o ídolo histórico do Grêmio Esportivo Maringá, Roderley Geraldo de Oliveira.
Nessa visita, a primeira de muitas, assim desejamos e ele também, quando fez o discurso de homenagem a Roderley, juntamente com o amigo Oscar Batista de Oliveira, o Dr. Guidini doou ao MEM uma

TV Girafa, um marco na história da imprensa de Maringá, projeto de transmissão ao vivo pela internet criado por Antonio Roberto de Paula em 2009

A TV Girafa, a transmissão ao vivo pela internet, pelo sistema streaming, foi um projeto pioneiro criado em Maringá pelo jornalista, escritor e documentarista Antonio Roberto de Paula em 2009. Constituiu-se num marco na história da comunicação de Maringá e uma das primeiras iniciativas da imprensa paranaense nesse sentido. De Paula montou com sua esposa, a jornalista Simone Labegalini, um estúdio de transmissão, gravaç&ati

 Rua Pioneiro Domingos Salgueiro, 1415- sobreloja - Maringá - Paraná - Brasil

 (44) 99156-1957

Museu Esportivo © 2016 Todos os diretos reservados

Logo Ingá Digital