Elnio Silveira Pohlmann - Apucarana
Morre Apucarana, aos 79 anos, dia 28 de fevereiro de 20121 - Empunhando a bandeira da polêmica, do folclore e da temeridade, Elnio Silveira Pohlmann marca seu nome indelevelmente na história do futebol de Maringá, quer queiram, quer não queiram.
Conheci o Apucarana há muitos anos, mas sua fama chegou bem antes para mim. O saudoso Renato Taylor Negrinho o chamava de “Aprendiz de feiticeiro”. O também saudoso Antonio Paulo Pucca vivia às turras com ele. Elnio Silveira Pohlmann criava clubes, montava times e depois ia ver como pagar a conta. Foi colunista esportivo dos jornais da cidade, teve programas de TV, montou tabloides, promoveu eventos (noites de gala, campeonatos amadores e torneios) e bingos (o espaço é pequeno para discorrer sobre isso, são muitas histórias), viajou pelas cidades da região vendendo propagandas para prefeituras e comerciantes, ou indo receber sem que o homenageado, às vezes, não soubesse da homenagem. Fundou o Grêmio de Esportes Maringá e o MAC, só para citar os principais, e era o rei dos estatutos de criação de clubes e associações e campeão absoluto dos bastidores do futebol.
Como repórter do Jornal do Povo e do O Diário do Norte do Paraná, eu cobria o Grêmio Maringá e o Maringá Atlético Clube. Nessa época, ali no início dos anos 1990, falava quase diariamente com o Elnio. Tivemos homéricas discussões pelas críticas que eu fazia ao time da ocasião e à diretoria. No dia seguinte estava tudo bem. Então ele saiu do Grêmio, ou saíram com ele, e o MAC fechou as portas ou foram fechadas pelos credores. Resolveu comprar um horário na RTV Sarandi, do João Cioffi, quando a emissora ainda funcionava naquela cidade. Ele me contratou como comentarista, o Paulinho Boa Pessoa como narrador e o saudoso Penha como cinegrafista. Além deste trabalho do domingo, eu fazia a produção do programa de rádio do Ananias Rodrigues na Atalaia e comentava, tinha coluna no Jornal do Povo e produzia o programa esportivo comandado pelo Domingos Trevizan na TV Maringá. Tempo muito louco e apaixonante.
Para a RTV, fazíamos jogos do Grêmio, gravávamos e, quando era no Willie Davids, levávamos a fita VHS para a RTV, que passava à noite. Partidas fora, no dia seguinte era exibido o tape. Também fazíamos jogos do amador da Liga de Maringá. Assim, conheci várias cidades. Às segundas, apresentávamos um programa ao vivo do estúdio, quando o Elnio fazia seus comentários a perder de vista, criticando o time do Grêmio e tecendo loas a determinados deputados, prefeitos parceiros e amigos vereadores. Sei de amigos que trabalharam para o Apucarana e não receberam ou tiveram dificuldades. Sei também de gente que ele ajudou.
Da minha parte, digo que ele nunca deixou de me pagar. Inclusive, quando íamos viajar, ele me dava o dinheiro para o almoço e o lanche da equipe e para a gasolina do carro do Penha. Quando chegávamos, 8, 9, 10 da noite, ele nos esperava em algum bar pra tomar algumas ou quase todas. Tempo inesquecível. Elnio, emérito contador de causos, apaixonado pela bola, divertido, bravo, braveza que durava dois minutos. Nunca tive coragem de chamá-lo de Cotia. Ele odiava o apelido. O saudoso Ary Bueno de Godoy, que reclamava do apelido “Perigoso”, tinha. Pelo amigo comum Dionísio Rodrigues Martins, que foi diretor dos clubes fundados pelo Apucarana, eu ficava sabendo do Elnio, de como estavam as coisas, da cegueira. Várias vezes, ao longo dos anos, ele me ligou, conversas a perder de vista.
Em 2014, quando fiz o lançamento do livro “Futebol – Recortes de uma paixão”, ele esteve no Sesc. Já estava com a visão bem deficiente. Muitos amigos da imprensa presentes e o Elnio recebendo o carinho de todos. Tenho algumas fotos abraçando o Elnio logo depois de autografar o meu livro para ele. Acabei de revê-las e me emocionei. Me veio aqueles tempos, trinta anos atrás, muito trabalho e pouca grana. A grana continua curta, mas não tem mais aquela loucura. Em maio de 2018, fui com o Dionísio ao escritório do Elnio, que queria doar ao Museu Esportivo de Maringá um quadro do MAC, campeão da Segundona paranaense de 1989. A seguir, transcrevo parte do texto que fiz e publiquei no site do Museu Esportivo de Maringá em 2018:
“A paixão pelo futebol continua motivando o popular Apucarana. A cegueira não o impede de trabalhar. Elnio Silveira Pohlmann, nome histórico e folclórico do futebol paranaense, em especial de Maringá, doou ao Museu Esportivo de Maringá um quadro do Maringá Atlético Clube, o MAC, de 1989, campeão da 2ª Divisão do Paranaense, clube fundado por ele. Também foi o Apucarana que, em 1974, fundou o Grêmio de Esportes Maringá. Polêmicas convivem com o Elnio ao longo dos seus mais de 50 anos ligados ao futebol. Brigas com radialistas e políticos, com torcedores e dirigentes de outros clubes e dos seus próprios clubes. Um homem sem papas na língua, empunhando a bandeira da temeridade. No meio de tudo isso, o inegável é que o seu nome está indelevelmente marcado na história da cidade, quer queiram, quer não queiram. Foram duas horas de conversas sobre o assunto que ele mais ama: a bola. Histórias que dão um livro. Histórias alegres, tristes, espantosas e até inexplicáveis. O Elnio está cego, mas não deixou de trabalhar, sendo o diretor e editor do jornal Paraná Notícias. Ele dita as matérias, explica como quer a capa e a diagramação, faz entrevistas e contatos comerciais por telefone.”
Foi a última vez que o vi. No final de 2020 ele me ligou, disse que queria ir ao Museu Esportivo. Hoje, sábado (28.02.21), o Moco, genro dele, me mandou uma mensagem informando da morte do “Aprendiz de feiticeiro”. Elnio morreu aos 79 anos vitimado por uma parada cardíaca. Quando formos falar da história do futebol de Maringá, Elnio Silveira Pohlmann, o Apucarana, não pode deixar de ser citado. Quando me perguntam da minha história no jornalismo, sempre tem o espaço do Elnio. (Antonio Roberto de Paula, diretor do Museu Esportivo de Maringá)
Legenda foto década de 1980 - Pohlmann no time do O Jornal de Maringá.
Legenda foto jornal - Pohlmann no time do Esporte Clube Operário, 1974, clube que deu origem ao Grêmio de Esportes Maringá.
Legenda foto - De Paula, Elnio Pohlmann e Dionísio Rodrigues Martins em maio de 2018.
Legenda foto 1987 - 1987 - Carlos Martins, Fiori Gigliotti, Lombardi Júnior e Elnio Pohlmann
Legenda foto 2014 - De Paula e Pohlmann
Legenda foto - Tião Rivelino, Roderley e Tilinho no velório de Elnio Pohlmann
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Agradecemos o livro-CD enviado pelo Francisco de Assis Pinheiro Dantas, nosso amigo, grande parceiro do Museu Esportivo de Maringá. O livro "Criaturas... fragmentos soltos no ar" é uma coletânea de poesias escritas pelo Dantas, com as páginas devidamente diagramadas. A capa é um trabalho de Aparecida C. Isolani. Apaixonado pelo esporte, especialmente o futebol, o sãopaulino Dantas é diretor do grupo "O Canibal - Um ser pri
Revista do Esporte nº 283, ano VI, Vavá e Pelé na capa, edição do dia 8 de agosto de 1964. Doação: Antonio da Silveira Franco. Entrada no acervo do MEM: 19 de agosto de 2021. No nosso site você encontra parte do nosso acervo. Acesse "Acervo do MEM", está separado por categorias, e passeie pela história do esporte.
Edemir Cláudio Marques, nome histórico do Coritiba nos anos 1970, atuou no Grêmio de Esportes Maringá em 1981. Quarto zagueiro e lateral esquerdo, conhecido pela apurada técnica e pelo chute forte e certeiro de perna canhota, Cláudio Marques doou ao Museu Esportivo de Maringá um quadro com o pôster do time do Galo do Norte de 1981, vice-campeão paranaense, em que ele está presente, com a seguinte dedicatória: “Ao
Nosso amigo do Museu Esportivo, o pesquisador José Carlos Cecílio, maringaense pioneiro do Maringá Velho, se tornou nosso embaixador na capital paulista. Morando em São Paulo, Cecílio percorre feiras, feirinhas, exposições, sebos, livrarias, brechós e afins em busca de peças, material impresso, tudo que se relaciona com a Cidade Canção. Nessas andanças, depois que criamos o Museu Esportivo de Maringá, e
“Quilômetros de papel e rios de tinta imprimem o futebol ao longo dos anos, atravessando gerações. Na era digital, as Imagens avançam pelos céus, rompem todas as fronteiras. As vozes do amor ao futebol ecoam pelo grande campo que é o mundo. Agora, em algum lugar, alguém chuta uma bola. A paixão mais documentada da história não para. O jogo nunca termina.”
(Antonio Roberto de Paula)
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