O País respirava futebol naquele 21 de junho de 1970. Não era para menos. O escrete canarinho poderia chegar ao tricampeonato. A seleção comandada por Zagallo havia vencido todos os jogos da Copa do Mundo do México e tinha pela frente a Itália, que, com muita garra, chegara à final no Estádio Azteca, na Cidade do México.
A redação da Folha do Norte, que sempre ficava fechada aos domingos, porque não havia edição na segunda-feira, estava cheia de repórteres. O televisor, em preto e branco, evidentemente, estava ligado. Em cores, só viria a ser lançado dois anos depois.
A. A. de Assis, o chefe de redação; Valdir Pinheiro, o editor de esportes; Francês, que fazia as matérias locais; Moracy Jacques, o fotógrafo; e Walter Poppi, que havia sido contratado no dia anterior, eram alguns dos telespectadores.
Naquela época, televisor era artigo de luxo. Por isso, a torcida foi engrossada com funcionários de outros departamentos. O satélite colocava as imagens minutos antes do início da partida. Fora o jogo, dava para ver a execução do Hino Nacional e nada mais.
Na narração, a bela, apaixonada e ufanista voz de Geraldo José de Almeida. “Brasil, patrão da bola”. Era este o seu principal bordão. Em campo, Félix, Carlos Alberto, Brito Piaza, Everaldo, Clodoaldo, Gerson, Jairzinho, Tostão, Pelé e Rivelino.
Os jornalistas não estavam naquele domingo na redação apenas para assistir a decisão. Estava tudo preparado para uma edição especial na segunda-feira. As páginas internas já estavam prontas e faltava “apenas” o Brasil ganhar o tricampeonato para o material ir para as rotativas.
Valdir havia preparado várias matérias sobre a seleção, a campanha e o currículo dos craques com as fotos correspondentes. Uma página inteira foi dedicada a eles. O editor não esqueceu dos reservas Leão, Ado, Zé Maria, Baldochi, Fontana, Joel Camargo, Marco Antonio, Paulo César, Roberto Miranda, Dário e Edu.
O departamento comercial trabalhara muito contando com a possibilidade de faturar alto. Havia anúncios em todas as páginas. Se a seleção perdesse, além da tristeza, o prejuízo seria dos maiores. As empresas só concordaram em anunciar em caso de vitória. Derrota e a edição estaria suspensa. Quem gostaria de ler um jornal trazendo informações sobre a vitória da Itália?
Pelé fez o primeiro, de cabeça. Bonisengna empatou numa falha de Clodoaldo. Igualdade no marcador na primeira etapa e muitas dificuldades para Moracy Jacques tirar fotos das imagens da partida.
O fotógrafo da Folha já vinha fazendo isto desde a primeira partida da seleção, contra a Tchecoslováquia, e depois Inglaterra, Romênia, Peru e Uruguai. Era uma prática comum nos jornais da época.
Os assinantes da Folha do Norte eram brindados com fotos distorcidas, de pouca resolução e nitidez. Mas, todo leitor tinha a compreensão da impossibilidade do fotógrafo estar no local e enviar a foto para a redação no mesmo dia e daí ser publicada no dia seguinte. Poucos, naquela época, tinham uma mente tão fértil para imaginar esta tecnologia do século XXI.
Gerson marcou o segundo, num tirambaço de fora da área. Jairzinho, que havia feito gols em todos os jogos anteriores, ampliou pra 3 a 1. Moracy não sabia se assistia ou se fotografava.
Depois dos 40 minutos, com o título garantido, o Brasil passou a tocar a bola e a dar espetáculo. Como fez Clodoaldo, driblando cinco italianos num curto espaço. Mas havia tempo para fechar o placar em alto estilo.
Bola com Pelé na entrada da área, que rola milimetricamente para o capitão Carlos Alberto. Um tiro forte, seco, à meia altura, no canto direito do goleiro Albertosi, que nada pôde fazer. Brasil 4 a 1. Festa em todo o País e também na redação da Folha do Norte do Paraná. Alegria e alívio.
No dia 22, os leitores da Folha viram a capa com uma enorme foto de Pelé. Nas internas, tudo sobre o Brasil na Copa do México. Valdir Pinheiro, A. A. de Assis e Walter Poppi deram todos os detalhes do jogo naquela edição histórica.
Em quase todas as páginas, anúncios das empresas, que pegaram carona na festa da vitória cumprimentando e congratulando-se com a seleção. O time era muito bom e o ufanismo também. Um clima excelente para exaltar a pátria e vender anúncios. Uma nova edição extra da Folha do Norte só viria a ser rodada em 10 de maio de 1972, no Jubileu de Prata de Maringá.
(Capítulo do livro “O Jornal do Bispo - A História da Folha do Norte do Paraná”, escrito por Antonio Roberto de Paula em 2001)
Um garoto me acompanha quase todos os dias. É um fantasminha. Ele saiu ali pelo final da década de 60, entrando na de 70, e de uns tempos para cá vem se sentando ao meu lado em frente à televisão, no carro, quando estou ouvindo as pessoas, nas caminhadas e quando fico divagando com as mãos pousadas no teclado do computador.
Esse garoto tem camisa branca, calças curtas, sapatos pretos Vulcabrás e meia
E abrindo a porta da velha edícula, abre o arquivo de memórias. Lágrimas serenas brotam. Ele não sabe identificá-las, não consegue sequer saber por que está chorando. É a liquidez da saudade gerada pela solidez de uma história, ele imagina. No cenário do passado, destacam-se velhas bolas de capotão, no canto, murchas, há tempos sem levar um chute.
Então, enquanto
“João foi de Alberto porque é trissílabo. Achou Carlos fraco diante daquele prenome forte e estranho: Renailton”
Renailton odeia seu nome. Sua mãe gostava das crianças de uma vizinha, o Renato e o Ailton. O pobre Renailton é quem acabou pagando o pato com a homenagem. Está com 27 anos e até agora não se acostumou com o nome Renailton Alberto da Luz. O Alberto foi o pai quem colocou. Em 1
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“A Escola de Datilografia Triunph por ocasião da formatura de mais uma de suas turmas promovia no salão de festas do Aero Club movimentadíssima audição dançante ao som do conjunto de Ritmos Júnior”. Esta foi uma das notas que Franklin Vieira da Silva, o Frank Silva, colocou na sua coluna “Crônica Social”, na primeira edição da Folha do Norte.
Frank, que chegou em Maringá e
“Quilômetros de papel e rios de tinta imprimem o futebol ao longo dos anos, atravessando gerações. Na era digital, as Imagens avançam pelos céus, rompem todas as fronteiras. As vozes do amor ao futebol ecoam pelo grande campo que é o mundo. Agora, em algum lugar, alguém chuta uma bola. A paixão mais documentada da história não para. O jogo nunca termina.”
(Antonio Roberto de Paula)
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