Últimas Publicações / 50 anos do Tri: A Copa de 1970 pelo jornalista Claudio Carsughi

Do site da CBF - 

Há mais de 50 anos no Brasil, jornalista italiano, que está no B rasil há mais de 50 anos, destaca incerteza com a transmissão antes da chegada ao México e traz mais uma visão de quem acompanhou a Seleção por toda Copa.

'Nunca havia estado no México e tudo representava um grande ponto de interrogação. Como seria o desempenho da seleção, como funcionaria a transmissão da Copa? Naquele tempo ficávamos temerosos com relação à qualidade da transmissão que chegaria, se chegasse, ao Brasil. Então tudo isso provocava essa grande dúvida. Tipo: o que faremos? O que acontecerá? Como é que será?

A seleção chegou para concentração em Guanajuato e nós também, já com regras bem determinadas, de dias e horários de abertura para o contato com a imprensa. Não era o dia a dia de hoje, em que o repórter chega a qualquer hora, a qualquer momento, e consegue falar com os jogadores. Lembro-me de um dia em que conversava com Clodoaldo, que era bem jovem, e eu dizia: “Ô Clodoaldo, vocês estão praticamente encarcerados. Você não sente um pouco de falta de ar livre, de poder sair, de ir onde você quiser?”. E me impressionou muito sua resposta, que seria normal em um jogador mais experiente, como Gérson: “Carsughi, nós sabemos perfeitamente o que queremos. Isso aqui não é uma brincadeira, essa é uma tarefa a que aderimos com o máximo de boa vontade e entusiasmo. Depois da Copa teremos todo o tempo que quisermos para passear, para nos divertir. Agora é um momento sério, um momento de trabalho e nós queremos fazer o possível para nos apresentar na Copa com as melhores condições para não repetir 1966”.

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Fiquei realmente impressionado, entendi que aquelas não eram palavras de ocasião, era a consciência de um garoto que representava de certa forma a ideia dominante e presente em todo o grupo, desde o mais famoso, que era Pelé, até os menos conhecidos, mesmo aqueles que sabiam que ficariam na reserva, que não seriam titulares, pois Zagallo já fizera suas escolhas. Mas todos estavam imbuídos desse critério. O Brasil saiu de Guanajuato para fazer alguns testes, nada importante demais, nada decisivo. Zagallo estava arrumando o time, experimentando algumas coisas, até que veio o último teste, em Irapuato, que foi curiosíssimo por várias razões. Fomos até lá, bela viagem, e a seleção jogou contra um combinado local, mas tecnicamente e, sobretudo, taticamente, foi um desastre: jogou muito mal. A defesa não marcava bem, o meio de campo não se encontrava, o ataque parecia perdido, enfim, um desastre. Eu me recordo que, ao término da transmissão, aí sim, estávamos lá sentados Mário Moraes, Mauro Pinheiro e eu, e um olhando para a cara do outro: “E agora? Vai estrear com isso? Vai se repetir o que aconteceu em 1966, três jogos, ciao, até logo e vamos embora. Essa seleção, assim, não tem jeito nenhum”.

Essa visão técnico-tática era também a dos jogadores, que como se sabe reuniram-se depois e os mais experientes, com Gérson e Pelé à frente, foram falar com Zagallo. Felizmente conseguiram mudar algumas posições e mudar a forma de jogar, o que foi a salvação da lavoura, porque, já na estreia contra a Tchecoslováquia o Brasil venceu, apesar do time adversário ter aberto o placar. O Brasil foi vencendo e convencendo. Os jogos foram se sucedendo, alguns resultados surpreenderam. Chegaram às semifinais aquelas que eram as melhores equipes. De um lado, Brasil e Uruguai, do outro, Itália e Alemanha. Lembro que, encerrado o jogo entre alemães e italianos, comecei o comentário dizendo: “Domingo encerra-se a Copa Jules Rimet e, seja quem for o vencedor, Brasil ou Itália, que já ganharam duas vezes a Copa, quem vencer leva a estatueta para casa em definitivo”.

Chegou a final e baseei meus comentários dizendo que o jogo seria duro durante uma hora e depois, no fim, o Brasil teria facilidade para vencer. Disse que não havia dúvida de que o Brasil venceria. Acertei na mosca. Após uma hora de jogo, Gérson fez o segundo gol brasileiro aos 21 minutos. Muita gente tinha ficado meio desconfiada com essa minha definição, de que depois de uma hora a coisa seria mais fácil, mas isso era apenas uma consideração de ordem pessoal.

O mais curioso foi a definição antecipada de como seria a transmissão, a última. Não podia dizer: “Eu faço esse jogo, você faz o outra”. São 90 minutos, dividido em três pedaços de 30. Fica absolutamente esquisito. Porque nós fazíamos um tempo, depois outro tempo. Pedaço de 30 é uma coisa! Coitado de quem fizer os últimos 15 minutos do primeiro tempo e os primeiros 15 do segundo. Feito o sorteio Pedro Luiz começaria, Fiori faria os dois pedacinhos e para Joseval caiu a última meia hora. Acabou o sorteio, chamei Joseval de lado e falei: “Zé, você entrou pelo cano. O que você vai fazer na última meia hora? Na última meia hora o jogo estará decidido. Não vai ter grande coisa. Vai ser um jogo que vai cair de rendimento, pelo calor, por tudo, você não vai ter muita coisa para falar, após o segundo gol”. E ele disse: “Claudio, esquece. Se for assim, deixa comigo, eu faço poesia, deixa comigo...”. Joseval tem até hoje, claro, um improviso brilhantíssimo. E fiquei matutando o que será que ele inventaria. Não me lembro com exatidão o que ele falou, mas fez uma série de imagens desse Brasil que ressurgia depois do desastre de 1966, narrou o terceiro e o quarto gols do Brasil e foi realmente com uma obra-prima que fechou nossa transmissão. Dei os parabéns para o Joseval e à noite fomos festejar.

Eu me lembro que recebemos telegramas de congratulações do seu Tuta, Antônio Augusto Amaral de Carvalho, o dono da Jovem Pan, para o Joseval, para o GB, para mim. Telegrama que ainda guardo, das poucas coisas que guardei depois de várias limpezas, jogando fora coisas de arquivo, passes de jogo, credenciais... Joguei tudo fora. Essa e outras histórias dos bastidores de Copas do Mundo você encontra em meu livro, “Meus 50 anos de Brasil”.'

 

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