Na manhã do dia 5 de dezembro de 2018, uma quarta-feira, o Tilinho me ligou. Ele queria levar o Ademir da Guia ao Museu Esportivo de Maringá na sexta-feira (7). Lógico, claro! Topei na hora. Na sexta, a Maria Rita, afilhada minha e da Simone, tinha uma apresentação na escola dela em Jandaia do Sul, às 19 horas. Caramba, se for muito tarde não vai dar tempo de ver a Maria Rita. Expliquei para o Tilinho a situação, ele entendeu. Então marcamos para as 15 horas. Ele me disse que estava tudo certo, porém, ele só daria a certeza no dia seguinte, na quinta-feira.
Eu teria a quinta-feira e a manhã de sexta para divulgar a visita e chamar os amigos, principalmente os fanáticos palmeirenses. Minha lista de fanáticos palmeirenses é grande. Pouco tempo. Mas nunca perco o sono. Na quinta, por volta das 9 horas, o Tilinho confirmou: o Museu estava no roteiro do Ademir.
Ele esteve várias vezes em Maringá, mas eu não tinha ido a nenhum amistoso ou evento que ele tivesse participado. Agora, ele estava vindo para as comemorações dos 40 anos do Esporte Clube Operário da Vila Operária, do qual o Tilinho, o Ortilio Carlos Vieira, o cara que mais sabe sobre o futebol profissional de Maringá, é o presidente.
Na agenda dos festejos, jantares e um amistoso entre os veteranos da Sociedade Esportiva Palmeiras, com Ademir da Guia como maior estrela, e a rapaziada do Operário. E o Tilinho e o Mariucci, que também estava na organização do evento, incluíram a visita ao MEM na agenda do ídolo maior do Palmeiras. Fiquei muito grato e preocupado.
Agora precisava correr, ligar, postar no grupo Amigos do Museu Esportivo do Facebook e do WhatsApp. Almocei rapidamente para continuar divulgando e convidando.
Aí o celular toca. É o Mariucci. Falou sobre a entrevista coletiva para a imprensa do Ademir. Disse pra ele que seria no Museu às 14 horas, portanto, uma hora antes da chegada dos fãs.
Ele me pediu pra convidar os amigos da imprensa. Sem problema, deixa comigo! Não podia ser depois do encontro com os torcedores porque a entrevista poderia ser esticada até as 19 horas. Tinha a apresentação da Maria Rita, e a Simone e eu tínhamos que sair de Maringá, no máximo, às 18 horas.
Agora, além de torcedores palmeirenses, tenho que convidar o pessoal da imprensa. Mas, cá comigo, sabia que o Ademir é “pauta boa”, como a gente diz no jornalismo. Contava com isso, com fé em Deus. Mãos à obra. Até as 16 horas da quinta já tinha falado com muita gente, mas precisava falar com muito mais.
Aí aconteceu de receber três amigos doadores de relíquias ao Museu Esportivo: O Mauricio Azanha e o Oswaldo Fabeni de Oliveira Morais, que foram levar duas camisas e uma bandeira do Grêmio Esportivo Brasil, de Pelotas-RS, doadas pelo Luiz Henrique Roza, morador de Joinville-SC, e o Angelo Rigon, que doou toda a coleção de fotografias, inclusive com os acrílicos, da exposição que fez em 2017, comemorativa aos 40 anos do título do Grêmio de Esportes Maringá. Para receber doações, até o Divino terrestre pode esperar.
À noite, retornei o contato com os amigos. Na sexta de manhã, cedinho, postagens no Facebook e nos grupos do WhatsApp. Abastecemos a geladeira do MEM com garrafinhas d´água, demos uma geral nas dependências, a Simone ficou de fazer duas garrafas de café. O calor em Maringá é gigante assim como o gosto pelo cafezinho. Falei com o Tilinho pelo celular. Perguntei se estava tudo certo. Ele, que já vinha postando fotos no avião, do Ademir e do Valtão, que também jogou no Palmeiras e sempre está com o Divino, me disse que iam almoçar próximo do Museu pra chegar no horário.
A Simone e eu fomos almoçar. Voltamos às 13h45. O Zé e o Cabral, a pedido do Mariucci, já estavam esperando a gente pra colocar o banner dos patrocinadores na área externa onde seria realizada a coletiva. Fui no computador procurar músicas do Palmeiras, do Palestra, hino do Palmeiras, cantos da Mancha Verde.
Temos duas caixinhas de som no Museu. Pensei: os corintianos não vão acreditar se disser isso pra eles, que estou no You Tube atrás de músicas do Palmeiras. Aliás, temos um grupo no WhatsApp só de corintianos. Quando fiz o convite por lá, respeitaram o Divino, mas sobraram piadas e leves críticas ao meu empenho. “Quando o Rivellino o for ao Museu eu vou. Hoje, não”. Na verdade, só brincadeiras. Eles sabem que, para mim, o MEM está bem acima das paixões clubísticas.
Às 14 horas, a comitiva chegou. Temos pouco mais de um ano de Museu Esportivo de Maringá em um local fixo. Cada vez que recebemos uma personalidade do esporte é um tipo de emoção. Justamente na hora em que Ademir pisou na recepção veio o som do computador: “Quando surge o alviverde imponente...” Ademir puxou o coro e o grupo cantou alto: “No gramado em que a luta o aguarda, sabe bem o que vem pela frente, que a dureza do prélio não tarda. E o Palmeiras no ardor da partida...”
Não cantei. Até porque não sei a letra. Mas senti uma intensa alegria. A gente estava recebendo o maior ídolo de um dos maiores clubes brasileiros em um espaço que a gente lutou muito para transformar em realidade o sonho maluco de alguns anos atrás. O Ademir da Guia naquela hora, assim como os ídolos brasileiros consagrados que nos deram a honra de visitar o Museu, os ex-profissionais que atuaram em Maringá e os muitos amigos do esporte amador, significava mais um importante passo para a consolidação desse projeto de resgate e homenagem.
Estávamos diante de uma pessoa de 76 anos que construiu uma história belíssima com a camisa alviverde, é o recordista de jogos, com 901, tendo conquistado cinco campeonatos brasileiros, cinco paulistas, um Rio-São Paulo e uma porção de torneios. Meu pai, falecido em 2006, me veio à mente. Era um fanático são-paulino e vivia discutindo com seu compadre Tula, de Engenheiro Beltrão, torcedor da Academia. Lembrei do velho e do grande amigo do meu pai, da minha infância, da família. Muitos pensamentos vêm visitar a gente nessas horas.
Naquela hora estávamos diante de uma lenda. Uma grande honra e um grande orgulho. Eu só me lembro que dei as boas-vindas. Nem prestei muito a atenção no que estava dizendo. Acho que nem o pessoal e nem o próprio Divino prestaram muita atenção. Essa paixão pela bola nos transporta para lugares maravilhosos.
Considero o MEM um lugar maravilhoso (modéstia à favas). Naquele momento era um local mágico, revestido da aura dos deuses do esporte. Tudo correu bem, otimamente bem. Cerca de cem pessoas compareceram. A imprensa fotografou, filmou e conversou com ele. Pessoal de jornal, rádio, TV e internet. Gosto de ouvir o repórter dizer: “Aqui, direto do Museu Esportivo de Maringá”. Disseram e escreveram.
Vi cenas emocionantes que só me tocaram bem mais tarde. Uma moça pediu para o Ademir assinar na bandeira do Palmeiras que ela havia trazido. Daí ela pediu para ele mandar uma mensagem para o avô enquanto gravava no celular. Daí ela fez selfie com o eterno craque. Quando todo mundo pensou que tinha acabado, ela pediu: “Posso dar um abraço no senhor?” Sim, pode, podia.
A emoção estava no ar. O Ademir é fino, educado, humilde, com a noção exata do que representa, em particular, para o palmeirense, e para o torcedor brasileiro, em geral. E ele parou de jogou em 1977!!! Muitas outras cenas. O corintiano que levou o velho pai palmeirense que vestia a camisa do clube do coração, que o Ademir autografou. Rapazes, senhores, querendo fotos, autógrafos e, do nada, vinha o coro que o eterno ídolo também participava: “Decacampeão, decacampeão!”
Pacientemente, ele falava com a imprensa, posava para as fotos, assinava, gravava mensagens nos celulares para o pai de alguém, para o tio, para o amigo. Vi santistas, corintianos, flamenguistas. Ademir da Guia uniu, ainda que por breves momentos, todos em torno do seu nome, em torno do futebol. Fiquei com vergonha de pedir para o Ademir autografar o verso de vinte fotos que mandei revelar dele para presentear amigos historiadores de Londrina e de Curitiba. A Simone foi lá, pediu e ele foi assinando, assinando, assinando, com paciência. Uma letra cursiva, estilosa.
Eu me lembrei que temos no Museu um livro sobre o pai dele, o grande Domingos da Guia, o maior zagueiro do seu tempo. Pedi para ele autografar. Ele escreveu: “Uma bela história – Ademir da Guia”. Duas belas histórias.
Passava das 16 horas quando ele foi embora. Tinha que descansar. À noite, outra legião de fãs o aguardaria. Fiz um discursinho rápido de agradecimento. Acho que desta vez prestaram mais atenção porque, ao ver o rosto do pessoal, havia concordância e alergia.
Agradeci o Tilinho, o Mariucci. Tilinho me contou que, naquele dia, levou o Ademir na casa de seu avô, de mais de 90 anos, em Paiçandu. Foi fazer uma surpresa para o velho palmeirense. O neto disse que o avô chorou, não acreditou que o Divino estava na sua casa. A emoção foi tanta que o próprio Ademir, mesmo tão calejado com manifestações de carinho e apreço, também não se conteve. Tilinho não me contou, não perguntei, mas certeza que também chorou.
Saí do Museu com a Simone pouco depois das 17 horas. Havia um sentimento de gratidão a Deus e às pessoas. Não parava de falar. Ela me conhece quando estou acelerado. Acho que deixa eu falar pra descarregar tudo. Fica ouvindo, ouvindo, faz uma observaçãozinha aqui, ali. Tanta gente para agradecer...
Ninguém faz nada sozinho. Na semana seguinte, fui atrás das fotos que os amigos fizeram do evento e as publiquei. O Kaique Augusto (da equipe Pólen, do parceiro Ivan Amorim), o Odair Figueiredo tirou várias, o João Paulo Santos (algumas até publicadas no O Diário). Escolhi seis, revelei, coloquei em um quadro de moldura verde, lisa e discreta e preguei numa das paredes da área externa do Museu. O certo é que este dia já está pregado na memória.
Você quer saber sobre a apresentação da Maria Rita? Tudo certo. Chegamos antes das 19 horas, levamos o Igor, irmão dela que estuda em Umuarama e pegou carona com a gente, encontramos o compadre-cunhado Rubinho Labegalini e a comadre Adriana na entrada do salão da igreja, e a Maria Rita fez, assim como as demais crianças, o lançamento de um livro com ilustrações. O título do livro dela (ganhamos um exemplar autografado pela autora) é “ A Sereia Apaixonada”. Quem sabe é o pontapé inicial (eu falando de futebol de novo) de uma escritora.
Depois fomos para o clube de Marumbi, cidade onde moram os Labegalinis. Lá, onde haveria um jantar, a nossa afilhada iria brilhar novamente: apresentação de final de ano da turma de Pilates. Eu, único corintiano, numa mesa só de palmeirenses. A Simone diz que é corintiana, pode até ser, mas a primeira coisa que disse ao cumprimentar o Ademir da Guia foi falar do seu saudoso pai Alberto: “Muito prazer, Ademir, meu pai era palmeirense.” Uma sexta-feira inesquecível cercado de verdes à tarde e à noite.
O compadre tinha levado uma garrafa de vinho pra mim, devidamente acomodada na geladeira da cozinha do clube. Não bebi. Levamos de volta pra casa dele. Era muita emoção para um dia só. No sábado, sim. Ergui a taça, brindei a vida e dei bons goles de agradecimento. (Antonio Roberto de Paula, diretor do Museu Esportivo de Maringá)
#museuesportivodemaringa
#amigosdomuseuesportivo
Seja o primeiro a comentar.
Acompanhado do seu genro Silvio César Crispim, o pioneiro maringaense Julio Fregadolli esteve no Museu Esportivo de Maringá, no dia 9 de outubro de 2018, para a entrega oficial de uma taça e um troféu conquistados pela Associação Comel de Maringá, equipe formada por por ele e que fez grande sucesso em Maringá e no Paraná nos anos 1970 e 1980. A taça é da conquista do Campeonato Amador Estadual - Copa Arizona - Dreher
Nosso amigo João Alavarse esteve no Museu Esportivo no sábado, dia 18 de janeiro de 2020, acompanhado da filha Rafaela e do Eduardo, namorado dela. O convite para a visita ao João havia sido feito o ano passado quando ele doou ao Museu Esportivo várias peças esportivas nacionais e internacionais.
Torcedor do Santos Futebol Clube, tendo sido conselheiro do clube, João Alavarse doou uma flâmula com o autógrafo do Rei Pelé e
Botafogo Futebol Clube, campeão da Taça Cidade de São Paulo, em 1977. Em 1977, o Botafogo seria campeão do Primeiro Turno do Campeonato Paulista. O feito rendeu ao clube o troféu de maior prestígio de sua história, a Taça Cidade de São Paulo. Com um time formado por grandes jogadores em um elenco que somava experiência e juventude, o Bota foi representado no Paulistão de 1977 por craques como Lori
O Museu Esportivo de Maringá recebeu no dia 28 de dezembro de 2017 a visita de membros da querida família Altoé, pioneira de Maringá. O Reginaldo e a Marinês, maringaenses que residem no Rio de Janeiro desde 1981, foram ver as relíquias do esporte da nossa cidade e levaram a filha Tatiana para conhecer um pouco dessa rica história. O Luiz Carlos Altoé, Kaltoé, o talentoso artista, histórico cartunista maringaense, irm&a
“Quilômetros de papel e rios de tinta imprimem o futebol ao longo dos anos, atravessando gerações. Na era digital, as Imagens avançam pelos céus, rompem todas as fronteiras. As vozes do amor ao futebol ecoam pelo grande campo que é o mundo. Agora, em algum lugar, alguém chuta uma bola. A paixão mais documentada da história não para. O jogo nunca termina.”
(Antonio Roberto de Paula)
Rua Pioneiro Domingos Salgueiro, 1415- sobreloja - Maringá - Paraná - Brasil
(44) 99156-1957