Últimas Publicações / Frank Silva, nome histórico da comunicação

Frank Silva faleceu neste domingo (13.09.20), aos 78 anos.

(Capítulos do livro “O Jornal do Bispo - A História da Folha do Norte do Paraná”, escrito por Antonio Roberto de Paula em 2001)

“A Escola de Datilografia Triunph por ocasião da formatura de mais uma de suas turmas promovia no salão de festas do Aero Club movimentadíssima audição dançante ao som do conjunto de Ritmos Júnior”. Esta foi uma das notas que Franklin Vieira da Silva, o Frank Silva, colocou na sua coluna “Crônica Social”, na primeira edição da Folha do Norte.

Frank, que chegou em Maringá em dezembro de 1954, era repórter da Rádio Cultura. Foi dele a cobertura do primeiro acidente aéreo na cidade ocorrido em maio de 1957. A esquadrilha da fumaça fazia uma daquelas apoteóticas apresentações diante de um público numeroso que se concentrou na praça Raposo Tavares e nas imediações da Rodoviária.

De repente, um dos aviões foi perdendo altura até espatifar-se próximo à Ferroviária, matando o piloto. Frank, que tinha apenas 15 anos, assistiu a tudo e foi para a rádio, onde deu todas as informações do acidente.

Bem relacionado com a sociedade desde garoto, Frank era amigo de Antonio Messias Pimenta, que o apresentou ao padre André, que seria o diretor comercial do novo jornal. Na conversa, padre André comentou sobre o lançamento da Folha do Norte e sugeriu a Frank que fizesse uma coluna social piloto. Frank fez e, com o aval de dom Jaime, foi contratado pela Folha.

“Eu não escrevia coluna social. Eu cheguei a escrever numa época no O Jornal uma coluna que falava sobre as atividades dos radialistas de Maringá e também os lançamentos dos discos. A chance de escrever uma coluna social foi na Folha do Norte, que, inegavelmente, era um destaque no interior do Estado.”

A coluna social deu-lhe a oportunidade de se relacionar com o empresariado e os políticos. Frank não tinha salário na Folha, ganhava comissão. Este relacionamento lhe rendia contratos de publicidade não apenas para a Folha, mas também para outros órgãos de imprensa, o que lhe proporcionava muito mais do que ser assalariado. Os ganhos não eram decorrentes apenas destes contratos.

“Eu era também o intermediário. Por exemplo: venda de títulos para clubes sociais. Outro exemplo: você chega numa cidade e não conhece ninguém. Eu, como colunista social iria conhecê-lo em primeiro lugar. Então, eu falava: o que você precisar aqui, se quiser ficar sócio de algum clube, quer comprar um carro, você fala comigo, porque eu vou ganhar uma comissão. Era um agente, com boa credibilidade. Nunca fiz nenhuma bandalheira como colunista social, tudo era combinado antes e com o maior critério possível.”

Se a paixão pelo jornalismo e o romantismo imperavam nas redações, Frank não havia se contagiado por isso. Para ele, jornal era um negócio e, portanto, teria que trabalhar como um comerciante. Com o tempo, ele exercitou este tino comercial a ponto de se tornar um dos mais bem-sucedidos do ramo.

Começou a “Crônica social” com um quarto de página, depois meia e, por fim, página inteira. Acompanhado do primo, o fotógrafo Reinaldo de Almeida César, e a partir de 1966 com Moracy Jacques, Frank esteve presente em todas as festas que ocorriam na cidade, principalmente no Aero Clube, Maringá Clube e no Hípico, onde se reunia a nata da sociedade maringaense. Os bailes de aniversário de Maringá, em 10 de maio, eram o que havia de mais luxuoso. Traje a rigor: terno preto, gravata borboleta, sapatos de verniz.

O Grêmio dos Comerciários de Maringá também promovia grandes bailes. Frank e Reinaldo eram presenças constantes, convidados pelo círculo de amizades que tinham e também pela divulgação do evento e das personalidades. Eram muitas as festinhas em residências. Época da cuba libre, do hi-fi, a Crush misturada com vodca, e da eterna Coca-Cola.

Bailes de debutantes eram um acontecimento, assim como concorridas eram as formaturas do ginásio, de datilografia e de corte e costura. E Frank, naturalmente, presente.

“Festas de debutantes tinham em Maringá, na pior das hipóteses, três por ano. Tinha muita festa de formatura de escola de datilografia, da qual eu também participei, eu me formando em datilografia. Não era para qualquer um, não. E também formatura de escolas de corte e costura. O que tinha de festas desses dois segmentos era impressionante, porque na época, aqui em Maringá, eu me recordo que tinha umas dez escolas de datilografia. As irmãs Kubota tinham uma escola de corte e costura e eram líderes desses movimentos de formatura. Eu ia a todas as festas, era uma agenda super-cheia. Olha, eu fazia questão de estar presente em todos os acontecimentos, porque, além de gostar, gosto até hoje, ainda tinha os contatos nos pontos de referência e fazia outras negociações.”

Dos colunáveis dos anos 60, Frank lembra de Joaquim Dutra, João Paulino, Adriano Valente, Anibal Bianchini da Rocha, Antonio Eriberto Schwabe e a esposa Laís, Lauro Fontes e Valquíria Fontes e Laércio Nickel Ferreira Lopes. Ele ressalta a elegância das pessoas, principalmente das mulheres.

Em 1967, quando Maringá completou 20 anos de emancipação política, Frank anteviu a possibilidade de faturar. Ele idealizou uma homenagem da Folha do Norte aos 20 industriais dos anos 20, os nascidos naquela década. Homenagem cobrada, evidentemente.

Passou a procurar donos de cerâmicas e madeireiras, empresas em grande número naquela época em Maringá. As reportagens saíram em janeiro e fevereiro. O final do ano ainda estava longe e por isso era possível continuar faturando.

'E em uma ação continuada, eu peguei os 20 engenheiros, os 20 médicos, os 20 advogados, e assim até o final do ano. Em dezembro, eu fiz, tenho até o filme ainda, das 20 senhoras de maior expressão na sociedade.”

Os eventos ocorriam em profusão. Frank chegou a fazer uma reportagem de dez páginas, que saiu numa edição especial, com as primeiras damas do norte do Paraná. Chegou inclusive a levá-las, em 1968, ao Palácio Iguaçu, numa audiência com Ivone Pimentel, a esposa do então governador Paulo Pimentel.

Frank ficou até 1973 na Folha do Norte. Saiu para acompanhar Joaquim Dutra, que deixara o jornal, onde era arrendatário, para fundar O Diário do Norte do Paraná.

 Acompanhar Joaquim Dutra era um caminho natural para Frank Silva. Já se conheciam desde a época que o colunista social falava no microfone da Cultura na década de 50. Outro fator, talvez o mais importante para seguir Dutra, era que ambos falavam a mesma língua. Ambos gostavam do jornalismo e viam nisso a possibilidade de ganhar dinheiro.

Eram empreendedores. Frank tinha um bom rendimento na Folha, mas sabia que, por mais que se esforçasse, continuaria sob a tutela do bispo. Quando muito, poderia chegar a arrendatário. Quando foi chamado, não pensou duas vezes. Deixou a coluna social da Folha para Joel Cardoso, que iniciava no ramo, e foi fazer a sua no novo jornal. Suas explicações para a saída da Folha revelam a amizade por Dutra e a vontade de crescer.

'Eu tenho um profundo respeito e admiração por dom Jaime. Foi, inegavelmente, a Folha que me deu aquela projeção. Mas, com o advento do O Diário, um jornal que tinha a garantia de ser super moderno e eu na vontade de procurar crescer, e convidado que fui pelo senhor Joaquim, que foi meu patrão na Rádio Cultura, onde tive o primeiro emprego em Maringá e a quem eu devia e devo lealdade, logicamente passei para O Diário.'

O grupo de Dutra ficou apenas dois anos à frente do O Diário. A sobrecarga de tantas empresas, entre elas a TV Cultura, inaugurada em 1975, fez com que o jornal quase fosse parar nas mãos do grupo que dirigia O Paraná, de Cascavel. Determinado a se desfazer do O Diário, o quarteto da Cultura, tendo Dutra como porta-voz, vendeu a metade das ações para o empresário Altamir Vinheski e 25% para Enésio Gomes Tristão, já falecido.

Neste período, Dutra já não dava as cartas no O Diário, mas possuía ainda 25% das ações. Quase no final de 1975, tendo assumido o departamento comercial da TV Cultura, ofereceu as ações para Frank, que em meia hora fechou o negócio, mesmo sem ter o dinheiro suficiente. O restante foi parcelado. Neste ínterim, Vinheski vendeu as ações para o empresário Ramirez Pozza, que em 1987 viria a adquirir O Jornal de Maringá. Já em 1976, Tristão vendia seus 25% para Frank e Edson Coelho Castilho.

Com entradas e saídas repentinas de outros sócios, que participavam da sociedade por intermédio de Frank, que buscava recursos para obter os 50%, finalmente aconteceu o percentual equivalente. Ele adquiriu a parte de Castilho e ficou com a metade. A outra para Pozza. No final de 1976, Frank adquiriu os outros 50%. Seu tino comercial havia sido colocado à prova mais do que nunca.

O empreendedor na área do jornalismo há muitos anos não escreve. De colunista, virou colunável. É dono, juntamente com a ex-esposa Rosey Rachel Vieira da Silva e outros familiares, do jornal mais lido da cidade. O grupo do O Diário adquiriu, em 2002, a Rádio Cultura de Maringá, onde Frank começou na imprensa.

O Diário do Norte do Paraná é o pioneiro na cidade na impressão off-set e em cores, não apenas com o azul e o preto, como era a Folha. A cada ano, o jornal que Dutra fundou em 29 de junho de 1974 vem se modernizando, acompanhando as tendências do mercado e sempre buscando uma maior interatividade com Maringá e região. Ao longo dos anos, desde sua fundação, a linha editorial do jornal, ou até mesmo a falta dela em alguns períodos, vem sendo questionada. No entanto, o espírito de luta de Frank para atingir seus objetivos é inquestionável.

 

O jornal O Diário do Norte do Paraná encerrou as atividades em 15 de abril de 2019 quando foi decretada a sua falência pela Justiça.

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